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Biocombustível e inteligência para o agronegócio

Novas possibilidades de investimento em pesquisa e desenvolvimento se abrem graças ao potencial do agronegócio brasileiro, aliado à capacidade de suas instituições e à criatividade de seus pesquisadores

O potencial do agronegócio brasileiro, aliado à capacidade de suas instituições e à criatividade de seus pesquisadores, tem aberto novas possibilidades de investimento em pesquisa e desenvolvimento, inclusive de empresas estrangeiras, atraídas pela posição estratégica que o país assume a partir da valorização dos biocombustíveis.

Para planejar o desenvolvimento do setor, o governador de São Paulo, José Serra, instituiu, nessa terça-feira, dia 24, a Comissão Paulista de Bioenergia, presidida pelo físico José Goldemberg e composta por seis secretários estaduais e representantes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e das três universidades públicas paulistas, USP, Unesp e Unicamp.

Contudo, a perspectiva de aceleração do crescimento do setor, tem despertado controvérsias. Alguns, como o presidente Hugo Chavez, da Venezuela, grande exportadora de petróleo, chegam a aventar a possibilidade de “faltar alimento” diante da supervalorização da produção de etanol, que chegou a 16 bilhões de litros no ano passado e promete expandir-se para o Centro-Oeste e mesmo algumas regiões do Norte do país.

Essa possibilidade foi diretamente rechaçada, na semana passada, pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, durante audiência na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal. Segundo ele, o Brasil dispõe de 50 milhões de hectares para produzir grãos, e apenas 10% dessa área seria usada para o plantio de cana-de-açúcar, que neste ano, alcançará 4,2 milhões de hectares apenas em São Paulo, conforme dados do governo estadual.

De qualquer forma, o momento exige atenção para que se planeje – nos planos políticos, econômicos, científicos e tecnológicos – essa diversificação da matriz energética brasileira, com maior participação dos combustíveis gerados a partir da biomassa e com garantia de viabilidade de produção da matéria-prima e comércio do etanol, que movimenta US$ 5,4 bilhões ao ano.

O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, atual coordenador da Comissão Interamericana do Etanol, declarou, na mesma audiência no Senado, que, para o Brasil manter a liderança mundial no setor, precisa investir mais em atividades de pesquisa, qualificação de recursos humanos, ampliação da rede logística e melhoria da infra-estrutura.

Inteligência estratégica
Com isso, cresce a percepção de que o desenvolvimento do agronegócio no Brasil depende de um sistema de inteligência para a gestão do setor. Essa é a proposta da Rede de Inovação e Prospecção Tecnológica para o Agronegócio (Ripa), criada em 2004 pelo Comitê Gestor do Fundo Setorial do Agronegócio (CT-Agro) por ação do então representante da comunidade científica no CT-Agro e atual presidente da Embrapa, Silvio Crestana.

Por meio dessa Rede, órgãos de governo, produtores rurais, universidades, institutos de pesquisa e entidades do terceiro setor compartilham informações especializadas, definem prioridades de pesquisa, além de proporem e discutirem planos de incentivo à inovação, oferecendo subsídios para a definição de políticas de gestão e financiamento do setor.

A Ripa é sediada no Instituto de Estudos Avançados da USP, em São Carlos, sob coordenação do professor Sérgio Mascarenhas, em parceria com a Embrapa, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), a empresa Listen Local Information System, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Com essa estratégia, busca-se construir uma política pública para o agronegócio que compreenda a visão empreendedora, com base tecnológica, capaz de gerar novas empresas com capacidade de inovação e de abertura de novos mercados. São ações imprescindíveis para uma nação que gera R$ 540 bilhões por ano com atividades de agronegócio, sobretudo diante das novas oportunidades colocadas em torno da bioenergia.

Francisco Rolfsen Belda, jornalista, é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, em São Carlos.

Roberta Salgado Silva, jornalista, é bolsista do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, em São Carlos.