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Instituto Oceanográfico encontra micro plásticos em pequenos invertebrados no litoral paulista

por Larissa Itaboraí

A poluição oceânica não é novidade. Peixes intoxicados com lixo doméstico e industrial sinalizam um cenário de degradação sistêmica das águas do planeta. O que muitas pessoas não sabem é que vários produtos utilizados de forma comum são, na verdade, grandes vilões de rios e oceanos. É o que comprova o mais recente estudo que faz parte do “Programa Lixo nos Mares” do Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP). Liderado pelo biólogo Alexander Turra, o estudo atestou a presença de organismos chamados de micro plásticos, advindos de esfoliantes, cremes dentais e até alguns tipos de tecidos.

A situação é grave pois existe a contaminação de pequenos invertebrados que se alimentam acidentalmente dessas microesferas. Por conter afinidade molecular, são muito boas em absorver outros poluentes tóxicos na água e quando não os mata asfixiados, aqueles que se alimentam dos pequenos seres, essas toxinas acabam indo parar nas mesas de todos nós consumidores. Os micro plásticos são aquelas bolinhas ásperas contidas em certos produtos feitas de polietileno ou polipropileno. Essas partículas variam em tamanho de 0,004 a 1,24 milímetros, ou seja, são muito pequenas e escapam com facilidade das estações de tratamento que ,por outro lado, não possuem os equipamentos adequados para filtrar essas substâncias que acabam se alastram nos rios e oceanos de todo o mundo.

“Até o momento, fizemos uma campanha piloto no Estuário de Santos com o objetivo de avaliar se os mexilhões presentes ali estavam contaminados com os micro plásticos. Coletamos organismos em seis diferentes pontos ao longo do canal e observamos mexilhões contaminados em todos eles”. Segundo o pesquisador essa coleta foi inicial e realizada em apenas uma área de toda a costa brasileira. “Outras campanhas que incluam outras regiões (urbanizadas e não urbanizadas) em uma série temporal deveriam ser desenvolvidas a fim de melhor entendermos os riscos da costa brasileira com relação a esse poluente”, alerta Alexander.

O estudo ainda monitora, quali e quantitativamente, a chegada e a saída dos micro plásticos vindos de rejeitos domésticos junto à Companhia de Saneamento Básico da cidade de São Paulo (Sabesp), para tentar entender o que acontece nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) quando se trata dos micro plásticos. “Isso porque alguns estudos mostram que parte dos micro plásticos presentes nos mares e oceanos são originados em nossas casas, quando utilizamos produtos com micro plásticos (ex. cosméticos abrasivos como esfoliantes) ou produtos sintéticos passíveis de deterioração, como é o caso das roupas sintéticas ao serem lavadas em máquinas”, explica o pesquisador.

“Diante dos resultados que serão coletados, acreditamos que as futuras providências estejam vinculadas ao desenvolvimento de estratégias que aumentem a eficiência de retenção dos micro plásticos nas ETEs, juntamente com campanhas de sensibilização da população para que a quantidade de micro plásticos que chegam ali também diminua. Isso também passa pela adaptação da indústria cosmética e têxtil, que pode desenvolver produtos que reduzam a geração desses produtos”, afirma Alexander.

O pesquisador alerta ainda para o papel do Governo diante dessa problemática. “O papel do governo é de regulamentar, incentivar e fiscalizar a execução de normas que possibilitem a diminuição do aporte de micro plásticos para o ambiente marinho. Essas ações são amplas e atuam desde nos setores produção, até no transporte e no consumo de produtos plásticos”, esclarece o biólogo. Já a sociedade civil, uma vez consciente dos riscos e impactos provenientes dos micro plásticos, tem como papel fazer um uso adequado de produtos que contenham resinas plásticas, evitando o consumo desnecessário (dando opções a outros materiais com a mesma função como é o caso de sementes ou argila para os esfoliantes abrasivos ou o algodão, no caso das roupas).

Gradativamente, a poluição oceânica toma grandes proporções. No caso do Brasil, que é banhado com mais de nove mil quilômetros de costa e grande parte da população se alimenta de produtos advindos do oceano, a importância dos ecossistemas marinhos para a vida humana está totalmente relacionada com o que acontece no mar. Hoje não há praticamente nenhuma região oceânica que não tenha sido negativamente impactada pela ação antrópica.

Origem do estudo – O ponta pé inicial para desenvolver o estudo partiu de uma descoberta feita durante uma atividade de campo junto com um amigo que lhe mostrou esse material. Após uma série de testes descobriram que era plástico. “Começamos a procurar na literatura registros desse material, os quais datavam da década de 1970 na Austrália e Estados Unidos. Descobrimos que os pellets nibs ou “lágrimas de sereias” eram na verdade a forma principal como a matéria prima plástica é comercializada e transportada. Daí iniciamos uma série de pesquisas na região de Santos procurando entender um pouco melhor como essas partículas se distribuíam no ambiente”, explica Alexander.

De acordo com o biólogo, o objetivo do trabalho é identificar possíveis efeitos fisiológicos de estresse decorrentes da ingestão dessas e de outras micropartículas plásticas por invertebrados marinhos, bem como a influência de aspectos da contaminação (ex. tempo e concentração dos micro plásticos na exposição aos organismos e presença ou não de aditivos químicos) nos efeitos observados. “No laboratório temos uma pesquisa vinculada a micro plásticos abrasivos/esfoliantes de polietileno utilizados em cosméticos desde 2013, no entanto, desde 2011 trabalhamos com um tipo de PVC com características muito semelhantes”, afirma Alexander.

Poluição oceânica além dos mares brasileiros – Outro estudo para avaliar os rios e lagos das cidades norte americanas foi realizado pela ONG 5gryes Institute, no qual foi encontrado cerca de 500.000 microesferas de plástico em apenas um quilômetro quadrado, o que chega a ser banal, se você considerar que existem 330.000 microesferas de plástico em uma única embalagem de um cosmético esfoliante facial. E quando ingeridas pelos organismos, por serem bioacumulativas, tais toxinas se concentram na cadeia alimentar, causando danos à saúde dos animais e do ser humano.

Dentro dessa esfera entra uma questão importante – a consciência da responsabilidade que cada pessoa tem sobre os produtos que usa. É difícil mobilizar a opinião pública acerca de problemas que não são claramente visíveis, como a presença do micro lixo nos ambientes. Esse comportamento coletivo de abstenção é fruto tanto da falta de informação a respeito desse tema, quanto do desânimo em relação à grandiosidade do problema e da pouca disposição para mobilização, tão comum na maioria das pessoas. A impressão de que, quanto mais a praia é limpa, mais lixo reaparece a cada dia, cria uma sensação de impotência frente ao problema.

Diante do estudo profundo realizado pela (ONG) norte americana 5gryes Institute sobre a poluição intensa em uma região dos EUA, em 2013, o que foi constatado é que esse é um dos maiores flagrantes de poluição com plástico já avistado. O estado de Illinois, nos Estados Unidos, foi o primeiro a banir as microesferas de produtos esfoliantes.