Skip to content Skip to sidebar Skip to footer

Mudanças climáticas e a escassez de água no Brasil

A crise de água e abastecimento é anunciada há anos, mas parece que 2014 chegou para confirmar a tragédia eminente. O desequilíbrio provocado pelo aquecimento global gera contrastes que vão desde chuvas anormais – que provocaram enchentes no norte do Brasil, até o tempo seco que fez com que diferentes cidades tivessem que promover rodízio no abastecimento de água. A seca registrada este ano, principalmente em São Paulo, está ligada à permanente e acelerada degradação da Floresta Amazônica. Eventos climáticos extremos serão cada vez mais intensos e comuns com a elevação da temperatura média do planeta.

São Paulo, cidade onde a escassez de água é a pior do Brasil, a crise hídrica é resultado de uma série de questões, como a falta de cuidado das nascentes, desmatamento da mata ciliar, poluição, desperdício e má gestão. Outro fator que intensifica todos os problemas anteriores e que mostra um novo desafio no planejamento e na gestão dos recursos naturais são as obras de infraestrutura. Segundo a coordenadora da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Cristina Amorim, as mudanças climáticas e os eventos extremos decorrentes delas não são levados em consideração quando obras de infraestrutura e políticas públicas são pensadas.

O “volume morto” (reserva de água que fica abaixo da captação das represas) do Sistema Cantareira, maior dos sistemas administrados pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), está sendo utilizado desde 15 de maio deste ano. Dos cerca de 400 bilhões de litros de água disponíveis no Cantareira, 182,5 bilhões estão sendo bombeados desde então. Para se ter uma ideia da dimensão do fato, segundo dados da Sabesp, o reservatório passou de 17%, registrado na segunda-feira (21/7), para 16,8% no dia seguinte. Há exatamente um ano, o volume de água era de 53,9%.

No entanto, para poupar o Sistema Cantareira, o Alto Tietê manteve seu ritmo de produção de água, impulsionado pela declaração do governador do estado, Geraldo Alckmim (PSDB) “A Sabesp faz monitoramento e, mesmo com uma seca que é a maior dos últimos 84 anos, não teremos problemas no Alto Tietê”, afirmou. Há duas semanas a Sabesp anunciou que pretende retirar 25 bilhões de litros das reservas profundas de duas das cinco represas que formam o sistema Alto Tietê, o que daria uma sobrevida de 25 dias ao manancial. Caso realmente seja necessária, a operação deve começar em agosto.

De acordo com especialistas, caso a estiagem nas regiões onde estão localizados os reservatórios permaneça nos próximos meses, ambos os sistemas podem secar por completo entre outubro e novembro. A consequência disso seria um desabastecimento de certos produtos, como hortaliças, e demissões em massa de funcionários. Muitos técnicos insistem na teoria de que o racionamento de água já deveria ter começado.

Lixo em vez de água – A maior estiagem dos últimos 70 anos revela toneladas de lixos de diversas espécies, como calçados, latas e a campeã: garrafas pet. São milhões delas espalhadas para todos os lados. Junto à crise de água iminente está a falta de educação de pessoas que insistem em jogar lixo em locais públicos, somado o péssimo tratamento de esgoto e a falta de uma coleta eficiente. É o caso do município de Salto, localizado no interior paulista, que é banhado pelo rio Tietê. A cachoeira da cidade, considerada turística, secou, pedras que não eram vistas há mais de 70 anos estão expostas, além da imensa quantidade de lixo que os rios estão revelando com a escassez de água.

Apesar desse triste cenário, é possível comemorar o fato de que agora sim todo esse lixo poderá ser removido. Equipes de limpeza aproveitam a oportunidade e utilizam até a prática de rapel para retirar o lixo do rio Tietê, na cidade de Salto. A sujeira evidenciada pela seca histórica do rio mostra a ineficácia do sistema de saneamento básico de São Paulo. Apesar de todas as tentativas de despoluição ou de reestruturação da rede, os canais de esgoto ainda levam poluição aos rios e alteram a paisagem das cidades.

Muitas soluções podem ser pensadas e colocadas em prática pelo governos. Um bom exemplo é o Rio Sena, que corta a capital francesa, Paris. Depois de séculos recebendo poluição industrial e esgoto doméstico, em 1960 os franceses passaram a investir na revitalização do local, construindo estações de tratamento de esgoto. No início, havia apenas 11 em funcionamento. Em 2008, o número aumentou para duas mil. A meta é que em 2015 o rio esteja 100% despoluído. O governo criou leis que punem poluidores e recompensam quem cultiva nas margens. Hoje já existem cerca de 30 espécies de peixes no rio, mas o processo para que isso acontecesse foi lento e demandou vontade política.

por Larissa Itaboraí