Algumas metas são relevantes. No entanto, é muito improvável que sejam cumpridas no prazo estipulado pelo governo.
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Entre os dias 17 e 23 de março, Brasília recebeu o maior evento do planeta para debater os recursos hídricos. De acordo com o diretor executivo do Fórum e da Agência Nacional de Águas (ANA), Ricardo Andrade, doze chefes de estado estiveram no evento, 54 ministros e mais de 130 parlamentares de 20 nações, além de autoridades brasileiras como prefeitos e governadores.
Ao longo dos cinco dias, o Fórum organizou mais de 300 mesas de debate e, ao todo, quatro declarações foram assinadas durante o evento. Bolívia, Brasil e Paraguai assinaram juntos uma Declaração de Interesse para o Pantanal. O acordo faz parte de um compromisso trinacional entre os três governos. O objetivo do documento é favorecer um processo de cooperação para a conservação
desse ecossistema.
Outro acordo assinado foi entre o governo federal e as comunidades extrativistas tradicionais da região litorânea do Maranhão. Quando publicado no Diário Oficial da União, o acordo poderá conceder às comunidades de pescadores e extrativistas da região o direito a permanecer na área ocupada – mais de 500 mil hectares de manguezal – e a utilizarem de forma sustentável.
O governo brasileiro também criou duas unidades de conservação (UCs) marinhas. São as áreas dos arquipélagos de São Pedro e São Paulo (PE) e de Trindade de Martim Vaz (ES), que somam 92 milhões de hectares no mar. São áreas de proteção ambiental (APA) e monumentos naturais (Mona). Com a criação das unidades de conservação marinhas, o Brasil amplia de 1,5% para 25% a sua área protegida na zona costeira-marinha, ultrapassando os 17% recomendados pelas Metas de Aichi. As medidas são um conjunto de ações que devem ser assumidas pelos países para deter a perda de biodiversidade planetária.
Na terça (20), foi assinada a Declaração Ministerial do 8º Fórum Mundial da Água. Intitulado “Chamamento urgente para uma ação decisiva sobre a água”, o documento reconhece que as nações precisam tomar medidas para enfrentar os desafios relacionados à água e ao saneamento. No documento, os ministros fazem um apelo para que haja mais empenho político para superar os desafios que envolvem a escassez de água e a alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O documento atenta também para a necessidade de os governos elaborarem estratégias de adaptação à mudança do clima, para assim “alcançar um acesso universal e equitativo à água potável segura e acessível”.
Dentre os avanços no debate sobre a preservação da água, houve também a formulação da Carta de Brasília. Ela servirá de recomendação para lideranças mundiais nos próximos três anos. Foi formulada por juízes e promotores do Brasil. O documento apresenta dez diretrizes para o reconhecimento do acesso à água como direito fundamental. Esta é a primeira vez que o Poder Judiciário participa de uma das edições do evento.
O documento elaborado servirá para orientar magistrados de todo o mundo no julgamento de casos relacionados ao acesso da população à água.
Público – Segundo balanço divulgado na sexta-feira (23), mais de 90 mil pessoas visitaram o Fórum. Nas plenárias do evento central foram inscritos cerca de sete mil participantes, além das mais de 80 mil pessoas que estiveram nos atrativos da Vila Cidadã e puderam aprender mais sobre os recursos hídricos. Do público da Vila Cidadã, 60 mil foram crianças e mais de 3,5 mil foram professores.
Segundo relatório da Adasa, o desabastecimento gerou bons resultados, o mês de dezembro e as primeiras semanas de 2018 tiveram boas chuvas e o quadro mais realista é de que até abril o Descoberto esteja com índice de 50%.
Hoje (16) completa um ano que os moradores de Brasília e Distrito Federal inauguraram o cotidiano de cortes no abastecimento de água promovido pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Nesse período, a população atingida pelo racionamento deixou de gastar cerca de 980 litros de água por segundo. Essa quantidade é quase o consumo de água da população de Ceilândia, que corresponde a 830 litros por segundo.
Ao todo, 1.631.549 moradores das regiões abastecidas pelo reservatório do Descoberto tiveram que se adaptar à nova rotina – ficar sem água 24 horas a cada seis dias. Após um mês os moradores abastecidos pelo sistema Santa Maria também entraram na rotina. Ao final de um ano de racionamento os candangos ficaram, em média, 2 meses sem água nas torneiras.
Em 2017, Brasília amargou a pior seca da história. Mesmo com os esforços dos candangos e com as intervenções da Caesb, o volume das barragens do Descoberto e de Santa Maria diminuía mês a mês. Até chegar ao índice de 5,3% no dia 7 de novembro – o menor da história do reservatório. O menor nível atingido pelo Santa Maria foi de 21,6%.
No último mês do ano as chuvas voltaram a cair e a capacidade do Descoberto chegou aos 30,1% no dia 31. Segundo o presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Paulo Salles, se não tivesse o racionamento, o Descoberto teria secado. Apesar de os reservatórios terem se recuperado, 2017 terminou com o volume de precipitações 15% abaixo do esperado. A previsão era de que o ano encerrasse com o acumulado de 1.525,9 milímetros, no entanto, choveu apenas 1.304,6 milímetros.
Cenário para 2018 – As duas primeiras semanas de 2018 começaram bem, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). A capital recebeu 88,6mm de chuva desde a virada do ano, ou seja, 36% da média de janeiro, que é de 247mm. Com isso, o nível do reservatório de Descoberto, principal fonte de abastecimento da cidade, subiu de 30% para 35%, enquanto o Santa Maria se manteve estável em 53%.
Segundo relatório da Adasa publicado no final de dezembro, o Descoberto deve atingir 50% de seu volume útil até o fim do período chuvoso. Isso, levando em consideração fatores como o ritmo das chuvas, o rodízio de água, a vazão, entre outros fatores técnicos, deve garantir o abastecimento público no próximo período de seca nos meses de outono e inverno.
Com base na expectativa do clima e nas captações da Caesb, a Adasa trabalha com três cenários possíveis: um de que o ciclo de chuvas nos próximos meses seja semelhante ao dos primeiros cinco meses deste ano; um com 20% a menos de chuvas no referido período; e um com 20% a mais de chuvas. Para isso, as chuvas teriam de repetir a intensidade registrada no ciclo hidrológico de 2016/2017 – o pior da história da capital.
“A quantidade de chuva que tem caído tem nos dado um alento. No entanto, temos a expectativa de chuvas por mais quatro meses. Precisamos esperar o que virá para termos uma situação mais clara de como será a próxima seca”, esclareceu Paulo.
Obras pela água – Em 2017, a Caesb deu andamento a 12 obras com o objetivo de aumentar a captação de água em 16,5%. No total, foi investido R$ 133.619.259,62 no ano. Segundo cálculos da Caesb, a capacidade de puxar água da natureza passou de 9.500 litros por segundo para 11.076 litros por segundo no auge de captação. Esse acréscimo é suficiente para abastecer aproximadamente 880 mil habitantes – média populacional das regiões de Ceilândia, Samambaia e Recanto das Emas.
A maior parte dessa capacidade adicional está concentrada em duas obras de médio porte: o subsistema do Bananal e a obra emergencial de captação do Lago Paranoá. A construção do Bananal permitiu retirar uma média de 726 litros por segundo do córrego. A obra custou R$ 20 milhões, bancados pela Caesb com financiamento do Banco do Brasil e contribuiu com o abastecimento de 170 mil habitantes de áreas como Asa Norte, Sudoeste, Cruzeiro e Noroeste.
A obra emergencial de captação do Lago Paranoá passou a captar cerca de 700 litros por segundo do lago artificial, em uma estação no Setor de Mansões do Lago Norte. A estrutura custou R$ 42 milhões, pagos pelo Ministério da Integração Nacional, e envia água para o sistema Santa Maria/Torto.
Além dessas construções, a Caesb também fez obras para interligar os reservatórios e, assim, diminuir a demanda do Descoberto. Antes da crise hídrica o reservatório abastecia 60% dos imóveis, atualmente ele fornece água para 52%. O Santa Maria passou de 21% para 29%.
Brasília em risco – A capital do país está situada no divisor de águas das bacias do rio Paraná, do Tocantins-Araguaia e do São Francisco. Por isso a preservação hídrica no DF é essencial para garantir o fornecimento em todo o país. O estudo mais completo feito sobre o clima em Brasília é de 2015, feito pela meteorologista do Inmet, Morgana de Almeida. Ela analisou 26 parâmetros climatológicos em todo o Centro-Oeste e o que viu foi uma tendência semelhante em quase todas elas: noites mais quentes, maior número de dias secos consecutivos, maior frequência de ondas de calor.
“Vários fatores contribuem para este aumento, mas fica claro que as interferências do homem influenciam esse processo. Podemos citar a emissão de CO2 na atmosfera e a expansão urbana”, explica Morgana.
Com o crescimento urbano desordenado, grande parte do solo da capital virou cimento e esses extremos de temperatura estão mais frequentes nos últimos anos. Nos últimos nove anos, Brasília bateu seis recordes históricos de calor – dois deles em apenas uma semana, em outubro de 2015. Na capital, as temperaturas mínimas médias subiram 1,85oC e as mínimas, ou seja, as menores temperaturas do ano, subiram 2,6oC desde 1961. O número de dias com umidade do ar abaixo de 30% cresceu 50% e o número de períodos com baixa umidade quase dobrou. Em 2010 havia 48 dias a mais no ano com temperaturas máximas acima de 25oC do que em 1961. A projeção é de que a temperatura suba de 2ºC a 4ºC até 2040.
O aumento na temperatura tem um efeito direto em setores como agricultura, produção de energia e acesso a água potável. Mesmo que chova, as condições do solo para absorver a chuva, depois de três anos secos, é muito baixa. Segundo especialistas, é preciso que chova muito pra reverter as condições do solo.
Documento foi elaborado por 193 Estados-membros da ONU e tem como objetivo apoiar a conservação e utilização de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.
Foi divulgado no último dia 26 o documento final, versão em português, da Conferência sobre os Oceanos, encontro global que ocorreu em Nova Iorque, entre 5 e 9 de junho e contou com os principais chefes de Estado e de Governo, bem como representantes de organizações de todo o mundo que trabalham com o tema. O objetivo da Conferência era apoiar a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº14 – conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.
Com o documento intitulado ‘Nosso oceano, nosso futuro: chamada para ação’, os líderes governistas afirmam que têm convicção de que o oceano é essencial para nosso futuro compartilhado e humanidade em comum em toda sua diversidade. Ainda de acordo com o documento, o oceano cobre três quartos do planeta Terra, conecta populações e mercados e representa uma parte importante das heranças natural e cultural.
Ele fornece quase metade do oxigênio, absorve mais de um quarto do dióxido de carbono que produzimos, exerce um papel vital no ciclo da água e no sistema climático e é uma fonte importante de biodiversidade e de serviços de ecossistema do nosso planeta.
Os oceanos contribuem para o desenvolvimento sustentável e economias sustentáveis baseadas em suas atividades, bem como para a erradicação da pobreza, segurança alimentar e nutrição, comércio e transporte marítimo, trabalho digno e fonte de renda. Alarmados pelos efeitos colaterais da mudança climática no oceano, incluindo o aumento das temperaturas do oceano, acidificação oceânica e costeira, desoxigenação, aumento do nível do mar, diminuição da área de cobertura do gelo polar, erosão das costas e fenômenos climáticos extremos, é destacado no documento o reconhecimento dos representantes de que existe a necessidade de se abordar os impactos adversos que prejudicam a habilidade crucial do oceano de agir como um regulador climático, como fonte de biodiversidade marítima, como um provedor vital de alimento e nutrição, turismo e serviços de ecossistema, e como um motor de desenvolvimento e crescimento econômico sustentáveis.
No documento final, foi citado ainda a importância do Acordo de Paris, adotado sob a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima.
Utilizado durante anos de forma insustentável, o rio Pinheiros, em São Paulo, passou de ponto de lazer a fonte de energia chegando a receber lixo doméstico e industrial em grande escala, até a sua revitalização.
O crescimento desordenado das grandes cidades geram graves e muitas vezes irreversíveis problemas ambientais. O rio Pinheiros, localizado às margens de uma das avenidas mais movimentadas da grande São Paulo, era um exemplo da falta de educação ambiental e estava condenado a ser mais um entre milhares de rios que estão poluídos, contaminados e utilizados pela população somente para ser uma lixeira a céu aberto.
Se um dia o rio Pinheiros havia sido ponto de encontro e lazer do paulistano que nadava em suas águas, depois de anos de descaso o rio assistiu ao crescimento da cidade passando por modificações que comprometeriam sua saúde e futuro, gerando, inclusive, mudanças no seu curso. Com tantas transformações, as margens do rio perderam as matas ciliares e a vegetação natural foi se extinguindo, comprometida pela construção de avenidas.
Para tentar reverter a situação, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA-SP) se uniu a várias outras equipes do Sistema de Meio Ambiente, como os Institutos Florestal, Geológico e de Botânica, além do Departamento de Projetos da Paisagem, a Coordenadoria de Proteção de Recursos Naturais, a Coordenadoria de Educação Ambiental, a Cetesb e a Fundação Florestal, com o propósito de avaliar as condições das margens do rio, do solo, da fauna, da flora e também da água.
Para começar o projeto, um trecho piloto permitiu aos técnicos estabelecer parâmetros para o trabalho, propor saídas para os obstáculos e finalmente colocar em prática aquilo em que acreditavam desde o início: a revitalização das margens do rio Pinheiros era possível. No período entre dezembro de 1999 a fevereiro de 2000, implantou o primeiro trecho com cerca de 1 km de extensão na margem esquerda do rio Pinheiros. A partir daí, surgiu o Pomar Urbano, denominado até então de Projeto Pomar, que “foi e tem sido responsável por revitalizar as margens do rio, promover a educação ambiental e o envolvimento da população com a conservação do local”, afirmou Marco Antonio de Oliveira, da Coordenadoria de Parques Urbanos (CPU) da SMA. De acordo com Marco Antonio, o projeto contou com a colaboração de técnicos de diversas áreas e parceiros da iniciativa privada determinados a transformar as margens do rio Pinheiros. “Atualmente, o projeto conta com 17 empresas parceiras”.
Sistema sustentável – Utilizando o sistema de flotação, as mudas produzidas no Pomar Urbano são regadas pela água do rio Pinheiros. Uma mini usina que simula uma estação de tratamento com o sistema de flotação torna a água captada no rio Pinheiros própria para ser utilizada na irrigação do Pomar. De acordo com a SMA, o recurso é também um alerta para a reflexão sobre o reuso da água, tema recorrente nas ações educativas do Pomar. A compostagem utilizada no Pomar, é um método de reciclagem feito a partir do material da poda. Os restos vegetais são triturados, manejados e umedecidos até que se transformem em adubo, quando voltam para a planta como alimento.
A recomposição paisagística e ambiental das margens do rio Pinheiros proporcionou o retorno da fauna, criando locais para repouso, abrigo e alimentação para animais e pássaros que estão nas áreas arborizadas. Ao todo, são mais de cinquenta espécies de aves, como gaviões, corujas, pombos, sabiás, sanhaços, periquitos, garças e muitas outras.
Público alvo – Segundo Marco Antonio, o público alvo vai desde usuários e frequentadores daquelas áreas que queiram conhecer ou participar das ações, além da possibilidade do agendamento de visitas programadas nos quais é disponibilizado acompanhamento monitorado. Em regra, tal acompanhamento é destinado à instituições de ensinos governamentais e não governamentais acompanhados por seu corpo docente.
Na última sexta-feira (28/8) representantes políticos, pesquisadores e gestores reuniram-se em mais uma edição do Diálogo Brasil: Reflexões sobre a crise e os caminhos democráticos, dessa vez em Belém, capital paraense. Promovido pelas fundações partidárias Verde Herbert Daniel (PV), João Mangabeira (PSB) e Astrogildo Pereira (PPS), o evento teve como tema Sustentabilidade e Desenvolvimento Humano. Para debater a problemática do tema e possíveis soluções, foram apresentados exemplos de boa gestão, como o prefeito de Vitória/ES Luciano Rezende, mostrando que com total transparência, participação da sociedade e uma comunicação integrada, conseguiu reduzir a taxa de homicídios para dois em 2015, representando o menor número em 32 anos.
José Carlos Lima, presidente da Fundação Verde Herbert Daniel (FVHD), foi o mediador do debate e contextualizou os inúmeros problemas que a região norte vive em termos de desenvolvimento humano e sustentável. “As cidades amazônicas hoje são extremamente violentas, principalmente as que ficam próximas a grandes investimentos e projetos de mineração.” Segundo José Carlos, com as pastagens, as grandes plantações de soja, as hidrelétricas e as mineradoras com seus imensos projetos de mineração, atividades baseadas na falta de preservação, fazem com que a região sofra cada vez mais os efeitos das mudanças climáticas e da falta de governabilidade.
Abrindo o ciclo de debates, Philip Fearnside, climatologista e também pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA/MCT), iniciou sua fala afirmando que, para ser considerado um desenvolvimento sustentável, é preciso apresentar algum tipo de progresso que seja duradouro. “Hoje quase toda a economia é baseada na destruição e deveria ser baseada na manutenção”, salientou. Para contextualizar sua afirmação, Philip levou dados de sua pesquisa, “O desenvolvimento sustentável frente a preservação do bioma Amazônia e os eventos de mudanças climáticas”. De acordo com Philip, a Amazônia tem um papel fundamental no desmatamento e nas mudanças climáticas e sua preservação geraria inúmeros benefícios para toda a sociedade. No entanto, “o que se vê hoje é uma emissão de 10 bilhões de toneladas por ano de carbono por causa do desmatamento”.
Ainda segundo o pesquisador, quanto mais aquecimento global, mais fenômenos como o El Niño ocorrerão. Philip Fearnside recebeu o Prêmio Chico Mendes e em 2015, foi o cientista mais citado de todos os cientistas do mundo, como referência em aquecimento global.
Dando um exemplo de gestão, o prefeito de Vitória/ES, Luciano Rezende (PPS/ES), mostrou como conseguiu reduzir a taxa de homicídios em sua cidade. Segundo Luciano, a participação da sociedade é fundamental para qualquer mudança.
“Resolvemos fazer um governo horizontal e conectado com a população no que chamamos de gestão compartilhada”, explicou. Para tanto, o prefeito utilizou-se do diálogo usando inúmeras ferramentas de interação, como as redes sociais e, inclusive, o whatstapp, que é compartilhado para toda a cidade. A população interage fazendo denúncias em tempo real.
Segundo Luciano, a crise política no Brasil abala também aos gestores de estados e municípios, que vêm a população desacreditada da política de uma maneira geral. “O que fiz foi uma grande tentativa de puxar a crise nacional para o poder local e contribuir com um outro ângulo de visão”, afirmou. Crises sem solução geram um problema de credibilidade e reputação e foi a partir dessa percepção que a prefeitura de Vitória deu início a mudança na forma de governar a cidade. Até agora, 2015 apresentou a menor taxa de homicídios em 32 anos, apenas dois.
Dando continuidade ao ciclo de debates, a doutora em Desenvolvimento Sustentável, Maria Amélia Enriquez, afirmou que o estado do Pará é uma síntese do que acontece com a Amazônia e isso tem a ver com o processo de crescimento e opção de desenvolvimento brasileiro. Para exemplificar, a pesquisadora apresentou alguns entraves causados pela mineração e os efeitos danosos que a atividade causa em toda a região do Pará, afetando inclusive, sua população. Em recente visita ao Xingu, a pesquisadora afirmou que a taxa de pobreza aferida naquela região é de cerca de 40% e o índice de analfabetismo de regiões próximas é de 30 a 40%.
Segundo Maria Amélia, apesar de ter sido criado um Plano de Desenvolvimento para o Xingu que tenta conciliar os diferentes segmentos da sociedade civil, dos governos federais, municipais e do Estado, “um dos grandes problemas daquela região é a formação de um consenso coletivo e aquilo que é estratégico para o desenvolvimento da região”. Apesar de ter sido averiguado que a falta de conectividade é um problema estratégico para a comunicação em todos os segmentos, esse tema não entra nas discussões individuais que ocorrem em cada região. “É muito difícil definir o que é mais urgente: o estratégico ou o estruturante. A população deseja aquilo que é mais imediato para sua cidade, principalmente por terem recursos limitados. Ela vai preferir o asfaltamento de uma estrada do que a implementação de uma rede de internet, que inclusive é de alto custo nessa região”, explicou.
Com uma fala mais geral sobre a crise política e econômica do Brasil, Carlos Edilson Maneschy, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi o último palestrante e afirmou que, a partir dessa crise “pode nascer a força que falta para mudar o país”. De acordo com Carlos, houve grandes avanços na realidade brasileira, como o aumento no acesso à educação superior e a universalização do ensino fundamental, no entanto, “é preciso pensar em um novo modelo de desenvolvimento social e com esse tipo de diálogo é possível construir um Brasil democrático”. Ainda segundo Carlos, o modelo de exploração atual remonta o modelo Brasil-Colônia. “Primeiro foi a exploração da borracha, depois a invasão da pecuária, a exploração do minério, depois da energia e amanhã provavelmente será a água. O resultado deste modelo se mostra completamente incompatível com nossas necessidades”, finalizou.
Diálogo Brasil – Essa foi a quinta edição do Diálogo Brasil: Reflexões sobre a crise e os caminhos democráticos, finalizando o ciclo de debates que tinha como objetivo percorrer as cinco regiões do Brasil apenas no primeiro semestre. A primeira edição do evento ocorreu em Brasília, seguida de São Paulo, no qual foi abordado as manifestações de rua deste ano. O terceiro estado que recebeu o evento foi o Rio Grande do sul e o tema foi a crise a nível internacional que o Brasil vive atualmente; o quarto estado contemplado foi o Recife, no qual foram debatidos problemas internos da região nordeste e, para finalizar o debate nas cinco regiões a cidade de Belém, focando no desenvolvimento humano e sustentável da região norte.
Estiveram presentes no debate José Luiz Penna (PV/SP), deputado federal e presidente do Partido Verde (PV), Arnaldo Jordy (PPS/PA) e Renato Casagrande, presidente da Fundação João Mangabeira.
A poluição oceânica é uma realidade nos mares e rios do Brasil. O que muitas pessoas não sabem é que produtos cosméticos utilizados comumente, como esfoliantes e até alguns tipos de tecidos de roupas, soltam pequenos pedaços de plásticos chamados microplásticos. Estes chegam às águas e, sem um tratamento adequado nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), podem acidentalmente servir de alimentos para invertebrados. É o que nos conta o Professor Dr. Alexander Turra do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP).
Em entrevista exclusiva para a equipe de reportagem da FVHD a respeito de um estudo desenvolvido na região de Santos, litoral de São Paulo, sobre a presença de microplásticos nas águas, o pesquisador afirma que houve ingestão de plásticos por parte dos mexilhões em toda a área pesquisada. Esse estudo, que faz parte do “Programa Lixo nos Mares”, foi desenvolvido na Enseada de Santos, litoral paulista, mas, segundo o doutor Alexander, “outras campanhas que incluam outras regiões (urbanizadas e não urbanizadas) em uma série temporal deveriam ser desenvolvidas a fim de melhor entendermos os riscos da costa brasileira com relação a esse poluente”.
FVHD – Professor Alexander, qual foi o ponta pé inicial para começar seu trabalho de pesquisa sobre os impactos dos microplásticos utilizados pela população e descartados nos rios e oceanos do Brasil? O senhor se baseou em algum estudo já realizado no Brasil ou em outro país?
Alexander Turra – Meu contato com os microplásticos, mais especificamente os plastic pellets, que são pequenas partículas de até 5mm, ocorreu de forma inusitada. Em uma atividade de campo um amigo me mostrou esse material e perguntou o que era. Começamos então a fazer uma série de testes para tentar descobrir. Olhamos, cheiramos, mastigamos (!) e, sem uma resposta, levamos para a casa dele e colocamos sobre um colher no fogo. Quando saiu aquela fumaça preta percebemos que era plástico. Daí começamos a procurar na literatura registros desse material, os quais datavam da década de 1970 na Austrália e Estados Unidos. Descobrimos que os pellets nibs ou “lágrimas de sereias” eram na verdade a forma principal como a matéria prima plástica é comercializada e transportada. Daí iniciamos uma série de pesquisas na região de Santos procurando entender um pouco melhor como essas partículas se distribuíam no ambiente.
FVHD – Com que tipo de substância foi iniciado seu projeto de pesquisa?
Alexander Turra – Os projetos de pesquisa relacionados aos microplásticos e desenvolvidos em meu laboratório foram iniciados com os plastic pellets (nome dado à matéria-prima plástica sob a forma de grânulos com cerca de 5mm de diâmetro). São produzidos a partir do eteno e do propeno, e comprados pelas indústrias transformadoras para serem moldados no formato final dos produtos comumente utilizados pela sociedade. O objetivo do projeto foi buscar entender a contaminação das praias da Enseada de Santos (litoral centro do Estado de São Paulo) através de estudos sobre a composição química (ou seja, tipo de polímero), distribuição e taxa de entrada desses grânulos na área de estudo.
FVHD – Existe uma pesquisa com microplásticos contidos em esfoliantes, cremes dentais e até alguns tipos de tecidos?
Alexander Turra – No laboratório temos uma pesquisa vinculada a microplásticos abrasivos/esfoliantes de polietileno utilizados em cosméticos desde 2013. O objetivo do trabalho é identificar possíveis efeitos fisiológicos de estresse decorrentes da ingestão dessas (e de outras) micropartículas plásticas por invertebrados marinhos, bem como a influência de aspectos da contaminação (ex. tempo e concentração dos microplásticos na exposição aos organismos, e presença ou não de aditivos químicos) nos efeitos observados.
No entanto, desde 2011 trabalhamos com um tipo de PVC com características muito semelhantes (ex. tamanho – na ordem de centenas de micrômetros – e formato – irregular). Junto com outro PVC (cujo tamanho é ainda menor, variando de 0,1 a 1µm de diâmetro), iniciamos em 2011 nossa frente de pesquisa sobre impactos dos microplásticos na biota marinha, investigando a sua biodisponibilidade para invertebrados marinhos. Todos os organismos com os quais trabalhamos naquela época (mexilhões, pepinos-do-mar, ascídias e esponjas) ingeriram os microplásticos e, a partir daí, nos deparamos com as perguntas: “Mas quais os efeitos decorrente disso? E eles variam em função do que?”. Concomitantemente, surgiu a ideia de trabalharmos com mais de um tipo de polímero. Partimos do PVC porque sabíamos que existia a perda para o ambiente através de seu transporte por vias marítimas, e quando decidimos expandir os modelos de microplásticos utilizados nos trabalhos, optamos pelos abrasivos utilizados em cosméticos no Brasil.
FVHD – Até o momento, houve comprovação dos impactos desses microplásticos menores nos mares brasileiros? Quais são os resultados?
Alexander Turra – Os trabalhos vinculados aos efeitos dos microplásticos são basicamente experimentais. Isso porque no ambiente os efeitos de estresse nos organismos são respostas à diferentes impactos que acontecem, muitas vezes, simultaneamente (e.x.: presença de outros poluentes; variações de temperatura, salinidade; outros). Dessa maneira, fica difícil afirmarmos categoricamente que o estresse observado nos organismos coletados é decorrente do contato com os microplásticos.
Uma forma de avaliar o risco do que observamos no laboratório acontecer de fato no meio marinho é verificar se a ingestão dos microplásticos realmente acontece no ambiente, visto que esse é o processo precursor dos efeitos investigados experimentalmente. Até o momento, fizemos uma campanha piloto no Estuário de Santos com o objetivo de avaliar se os mexilhões presentes ali estavam contaminados com os microplásticos. Coletamos organismos em 6 diferentes pontos ao longo do canal e observamos mexilhões contaminados em todos eles. Houve uma variação de 100 a 20% de contaminação. No entanto, ainda não identificamos quais os tipos de plásticos ingeridos.
Essa coleta foi inicial e realizada em apenas uma área de toda a costa brasileira. Outras campanhas que incluam outras regiões (urbanizadas e não urbanizadas) em uma série temporal deveriam ser desenvolvidas a fim de melhor entendermos os riscos da costa brasileira com relação a esse poluente.
FVHD – O senhor havia falado sobre a possibilidade de ampliação desse estudo com o apoio da Companhia de Saneamento Básico da cidade de São Paulo (Sabesp), com o intuito de monitorar as estações de tratamento de São Paulo. Como será feito esse acompanhamento?
Alexander Turra – A pesquisa vinculada a Sabesp ainda está em fase de elaboração, mas o objetivo central dela é monitorar, quali e quantitativamente, a chegada e a saída dos microplásticos vindos de rejeitos domésticos. Isso porque alguns estudos mostram que parte dos microplásticos presentes nos mares e oceanos são originados em nossas casas, quando utilizamos produtos com microplásticos (e.x. cosméticos abrasivos) ou produtos sintéticos passíveis de deterioração, como é o caso das roupas sintéticas ao serem lavadas em máquinas. Sabe-se que os sistemas de tratamento de esgoto (ETEs) não foram pensados e desenvolvidos contando com esse tipo de poluente, por isso é de suma importância entender o que acontece neles quando se trata dos microplásticos.
Pretendemos fazer esse acompanhamento em sistemas de cidades litorâneas, incluindo aspectos como densidade populacional e variabilidades sazonais na discussão. Além disso, como os sistemas de tratamento de esgoto envolvem mais de um procedimento/etapa, pretende-se avaliar a qualidade da retenção dos microplásticos em cada uma delas (quanto e qual o tipo), visando entender como esses procedimentos estariam atuando.
FVHD – A partir desses resultados coletados do monitoramento das estações de tratamento de São Paulo, quais serão as próximas providências?
Alexander Turra – As próximas providências dependem estritamente do tipo de resultado que obtivermos. No entanto, acreditamos que elas estejam vinculadas ao desenvolvimento de estratégias que aumentem a eficiência de retenção dos microplásticos nas ETEs, juntamente com campanhas de sensibilização da população para que a quantidade de microplásticos que chegam ali também diminua. Isso também passa pela adaptação da indústria cosmética e têxtil, que pode desenvolver produtos que reduzam a geração desses produtos. Outro aspecto que devemos considerar é o quanto desses microplásticos oriundos de nossas casas estão ficando em nossa costa e impactando nossos organismos. Para isso, o monitoramento da biodisponibilidade desse poluente é uma importante ferramenta. Assim integramos a origem, o destino e os impactos de parte da poluição marinha por microplásticos.
FVHD – Diante da comprovação do descarte desses microplásticos vindos de substâncias utilizadas livremente no Brasil, como esfoliantes, cremes dentais e alguns tecidos, qual é o papel do Governo e da população para a prevenção desse tipo de poluição?
Alexander Turra – O papel do governo é de regulamentar, incentivar e fiscalizar a execução de normas que possibilitem a diminuição do aporte de microplásticos para o ambiente marinho. Essas ações são amplas e atuam desde nos setores produção, até no transporte e no consumo de produtos plásticos (dos já produzidos em tamanhos diminutos, como é o caso dos esfoliantes, até os produtos de grande tamanho que podem ser fragmentados em escalas micrométricas, como é o caso dos tecidos sintéticos). Também cabe ao governo disponibilizar as informações que já temos acerca dessa problemática em campanhas de sensibilização que possam atingir a população.
Já a sociedade civil, uma vez consciente dos riscos e impactos provenientes dos microplásticos, tem como papel fazer um uso adequado de produtos que contenham resinas plásticas, evitando o consumo desnecessário (dando opções a outros materiais com a mesma função como é o caso de sementes ou argila para os esfoliantes abrasivos; ou o algodão no caso das roupas). Outra ação importantíssima da população é a mobilização. Ações de sensibilização para pessoas que ainda não conhecem a problemática e movimentos que cobrem ações do governo e de empresas são de suma importância.
Um exemplo de sucesso é a campanha internacional “Beat the microbeads” (ou, em português “Combata os microplásticos”) que pode ser acessada pelo site, lançada em 2012 pelas fundações Plastic Soup Foundation e North Sea Foundation. Desde então, a campanha conseguiu o apoio de inúmeras ONGs pelo mundo e, através de abaixo-assinados, aplicativos, vídeos no youtube e falas à Comissão Europeia e UNEP alcançou com sucesso o comprometimento de grandes empresas farmacêuticas (como a Unilever, LÓréal, Colgate/Palmolive e Jonhson & Jonhson) a parar de utilizar microesferas plásticas em seus produtos. No Brasil esse movimento também está presente, com algumas empresas já tendo aderido. Mas ainda há necessidade de ampliação para a totalidade das empresas e o papel do Ministério do Meio Ambiente é fundamental em criar instrumentos legais que reforcem essa necessidade.
*Essa entrevista teve a colaboração das alunas do IOUSP, Marina Ferreira Mourão Santana e Liv Ascer.

por Larissa Itaboraí
A poluição oceânica não é novidade. Peixes intoxicados com lixo doméstico e industrial sinalizam um cenário de degradação sistêmica das águas do planeta. O que muitas pessoas não sabem é que vários produtos utilizados de forma comum são, na verdade, grandes vilões de rios e oceanos. É o que comprova o mais recente estudo que faz parte do “Programa Lixo nos Mares” do Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP). Liderado pelo biólogo Alexander Turra, o estudo atestou a presença de organismos chamados de micro plásticos, advindos de esfoliantes, cremes dentais e até alguns tipos de tecidos.
A situação é grave pois existe a contaminação de pequenos invertebrados que se alimentam acidentalmente dessas microesferas. Por conter afinidade molecular, são muito boas em absorver outros poluentes tóxicos na água e quando não os mata asfixiados, aqueles que se alimentam dos pequenos seres, essas toxinas acabam indo parar nas mesas de todos nós consumidores. Os micro plásticos são aquelas bolinhas ásperas contidas em certos produtos feitas de polietileno ou polipropileno. Essas partículas variam em tamanho de 0,004 a 1,24 milímetros, ou seja, são muito pequenas e escapam com facilidade das estações de tratamento que ,por outro lado, não possuem os equipamentos adequados para filtrar essas substâncias que acabam se alastram nos rios e oceanos de todo o mundo.
“Até o momento, fizemos uma campanha piloto no Estuário de Santos com o objetivo de avaliar se os mexilhões presentes ali estavam contaminados com os micro plásticos. Coletamos organismos em seis diferentes pontos ao longo do canal e observamos mexilhões contaminados em todos eles”. Segundo o pesquisador essa coleta foi inicial e realizada em apenas uma área de toda a costa brasileira. “Outras campanhas que incluam outras regiões (urbanizadas e não urbanizadas) em uma série temporal deveriam ser desenvolvidas a fim de melhor entendermos os riscos da costa brasileira com relação a esse poluente”, alerta Alexander.
O estudo ainda monitora, quali e quantitativamente, a chegada e a saída dos micro plásticos vindos de rejeitos domésticos junto à Companhia de Saneamento Básico da cidade de São Paulo (Sabesp), para tentar entender o que acontece nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) quando se trata dos micro plásticos. “Isso porque alguns estudos mostram que parte dos micro plásticos presentes nos mares e oceanos são originados em nossas casas, quando utilizamos produtos com micro plásticos (ex. cosméticos abrasivos como esfoliantes) ou produtos sintéticos passíveis de deterioração, como é o caso das roupas sintéticas ao serem lavadas em máquinas”, explica o pesquisador.
“Diante dos resultados que serão coletados, acreditamos que as futuras providências estejam vinculadas ao desenvolvimento de estratégias que aumentem a eficiência de retenção dos micro plásticos nas ETEs, juntamente com campanhas de sensibilização da população para que a quantidade de micro plásticos que chegam ali também diminua. Isso também passa pela adaptação da indústria cosmética e têxtil, que pode desenvolver produtos que reduzam a geração desses produtos”, afirma Alexander.
O pesquisador alerta ainda para o papel do Governo diante dessa problemática. “O papel do governo é de regulamentar, incentivar e fiscalizar a execução de normas que possibilitem a diminuição do aporte de micro plásticos para o ambiente marinho. Essas ações são amplas e atuam desde nos setores produção, até no transporte e no consumo de produtos plásticos”, esclarece o biólogo. Já a sociedade civil, uma vez consciente dos riscos e impactos provenientes dos micro plásticos, tem como papel fazer um uso adequado de produtos que contenham resinas plásticas, evitando o consumo desnecessário (dando opções a outros materiais com a mesma função como é o caso de sementes ou argila para os esfoliantes abrasivos ou o algodão, no caso das roupas).
Gradativamente, a poluição oceânica toma grandes proporções. No caso do Brasil, que é banhado com mais de nove mil quilômetros de costa e grande parte da população se alimenta de produtos advindos do oceano, a importância dos ecossistemas marinhos para a vida humana está totalmente relacionada com o que acontece no mar. Hoje não há praticamente nenhuma região oceânica que não tenha sido negativamente impactada pela ação antrópica.
Origem do estudo – O ponta pé inicial para desenvolver o estudo partiu de uma descoberta feita durante uma atividade de campo junto com um amigo que lhe mostrou esse material. Após uma série de testes descobriram que era plástico. “Começamos a procurar na literatura registros desse material, os quais datavam da década de 1970 na Austrália e Estados Unidos. Descobrimos que os pellets nibs ou “lágrimas de sereias” eram na verdade a forma principal como a matéria prima plástica é comercializada e transportada. Daí iniciamos uma série de pesquisas na região de Santos procurando entender um pouco melhor como essas partículas se distribuíam no ambiente”, explica Alexander.
De acordo com o biólogo, o objetivo do trabalho é identificar possíveis efeitos fisiológicos de estresse decorrentes da ingestão dessas e de outras micropartículas plásticas por invertebrados marinhos, bem como a influência de aspectos da contaminação (ex. tempo e concentração dos micro plásticos na exposição aos organismos e presença ou não de aditivos químicos) nos efeitos observados. “No laboratório temos uma pesquisa vinculada a micro plásticos abrasivos/esfoliantes de polietileno utilizados em cosméticos desde 2013, no entanto, desde 2011 trabalhamos com um tipo de PVC com características muito semelhantes”, afirma Alexander.
Poluição oceânica além dos mares brasileiros – Outro estudo para avaliar os rios e lagos das cidades norte americanas foi realizado pela ONG 5gryes Institute, no qual foi encontrado cerca de 500.000 microesferas de plástico em apenas um quilômetro quadrado, o que chega a ser banal, se você considerar que existem 330.000 microesferas de plástico em uma única embalagem de um cosmético esfoliante facial. E quando ingeridas pelos organismos, por serem bioacumulativas, tais toxinas se concentram na cadeia alimentar, causando danos à saúde dos animais e do ser humano.
Dentro dessa esfera entra uma questão importante – a consciência da responsabilidade que cada pessoa tem sobre os produtos que usa. É difícil mobilizar a opinião pública acerca de problemas que não são claramente visíveis, como a presença do micro lixo nos ambientes. Esse comportamento coletivo de abstenção é fruto tanto da falta de informação a respeito desse tema, quanto do desânimo em relação à grandiosidade do problema e da pouca disposição para mobilização, tão comum na maioria das pessoas. A impressão de que, quanto mais a praia é limpa, mais lixo reaparece a cada dia, cria uma sensação de impotência frente ao problema.
Diante do estudo profundo realizado pela (ONG) norte americana 5gryes Institute sobre a poluição intensa em uma região dos EUA, em 2013, o que foi constatado é que esse é um dos maiores flagrantes de poluição com plástico já avistado. O estado de Illinois, nos Estados Unidos, foi o primeiro a banir as microesferas de produtos esfoliantes.




Cerca de 8 milhões de toneladas de lixo plástico são lançadas nos oceanos anualmente, segundo cientistas.
Essa quantidade poderia cobrir 34 vezes toda a área da ilha de Manhattan, em Nova York, com uma camada de lixo à altura dos joelhos de uma pessoa. Além disso, supera de 20 a 2 mil vezes os cálculos anteriores sobre a massa de plástico levada pelas correntes oceânicas.
O novo estudo é considerado um dos melhores esforços para quantificar o plástico despejado, queimado ou arrastado para o mar. Segundo os pesquisadores, a análise também pode ajudar a descobrir a quantidade total de plástico existente hoje no oceano – não apenas o material que é encontrado na superfície ou nas praias.
Grandes quantidades de resíduos podem estar escondidas no fundo dos oceanos ou fragmentadas em pedaços tão pequenos que não são captados pelas análises convencionais. Essas partículas estão sendo ingeridas por criaturas marinhas – o que pode resultar em consequências desconhecidas.
Os detalhes foram divulgados no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Vilões dos mares
A equipe de especialistas analisou dados populacionais com informações sobre a quantidade de lixo gerado e gerenciado (ou não gerenciado). Eles elaboraram cenários para prever a quantidade de plástico despejado nos oceanos.
Para o ano de 2010, esses cenários variam de 4,8 milhões a 12,7 milhões de toneladas. A cifra de 8 milhões de toneladas é a média dessa variação.
O cenário conservador equivale em termos de massa à quantidade de atum pescada anualmente nos oceanos.
“Isso significa que estamos tirando atum e colocando plástico em seu lugar”, disse Kara Lavender Law, co-autora da pesquisa e porta-voz da Associação Educacional do Mar de Woods Hole, no Estado americano de Massachussetts.
Os cientistas também fizeram uma lista dos países que seriam os maiores responsáveis pelo despejo desses resíduos. As 20 nações que despejam as maiores quantidades seriam responsáveis por 83% do plástico mal gerenciado que pode entrar nos oceanos.
A China ocupa o topo da lista, produzindo mais de um milhão de toneladas. Mas a equipe ressalva que é preciso levar em conta a imensa população do país e a extensão da sua costa.
Os Estados Unidos ficaram no 20º lugar da lista. O país tem uma grande área costeira, porém adota melhores práticas de descarte do lixo. Por outro lado, os EUA registram altos níveis de consumo de plástico per capita.
A União Europeia é analisada em bloco e ocupa o 18º lugar na lista.
Soluções
O estudo recomenda soluções para o problema. Afirma que as nações ricas precisam reduzir seu consumo de produtos descartáveis e embalagens de plástico, como sacolas plásticas. Já os países em desenvolvimento têm que melhorar o tratamento do lixo.
“O crescimento econômico está ligado à geração de lixo. O crescimento econômico é uma coisa boa, mas o que você vê normalmente em países em desenvolvimento é que a estrutura de tratamento do lixo é deixada de lado”, disse a pesquisadora Jenna Jambeck, da Universidade da Georgia.
“Isso faz algum sentido na medida em que eles estão mais focados em produzir água limpa e melhorar o saneamento. Mas não devem se esquecer desse tratamento porque os problemas só vão ficar piores.”
A equipe de pesquisadores estima que a quantidade de plástico jogada anualmente nos mares pode alcançar 17,5 milhões de toneladas até 2025. Isso significa que até lá 155 milhões de toneladas chegarão aos oceanos.
O Banco Mundial estima que o patamar máximo de lixo produzido no mundo só será atingido em 2100.
O pesquisador Roland Geyer, da Universidade da Califórnia, que também participou do estudo, disse que não é possível limpar o plástico dos oceanos. “Fechar a torneira é a única solução”, afirmou à BBC.
“Como você recolheria o plástico do fundo dos oceanos considerando que a sua profundidade média é de 4,2 mil metros? Temos antes que evitar que o plástico chegue aos oceanos.”
“A falta de sistemas de tratamento de lixo alimenta a entrada de plástico no oceano”, diz o cientista. “Ajudar todos os países a desenvolver estruturas de tratamento é a mais alta prioridade”, disse.








A última parada de antigos vagões de trens nova-iorquinos, chamados de Redbirds, que foram utilizados no metrô por 40 anos, é o oceano Atlântico, 30 km mar adentro.
O Departamento de Trânsito da cidade escolheu o fundo do mar como forma de descartar os vagões para que eles virassem recifes artificiais.
O objetivo é simples: além de atrair turistas, tais recifes fazem com que os mergulhadores deixem de frequentar os corais naturais, muito sensíveis à presença humana.
Os trens foram ao mar ao longo da última década. O processo atraiu o fotógrafo Stephen Mallon, cujas imagens dos afundamentos estão em exposição em Manhattan entre esta sexta-feira (6) e 8 de março, na Galeria Kimmel da Universidade de Nova York.
“Enquanto fotografava, eu só pensava ‘meu Deus, que imagens’ entre os cliques”, disse o fotógrafo à Folha.
A iniciativa americana não é a única. No Brasil, a Associação MarBrasil, que reúne pesquisadores da área biológica, tem nos últimos anos jogado blocos de concreto ao mar no Paraná para fazer recifes artificiais. Entre março e abril, a entidade pretende lançar 1.500 novas unidades –o Ibama, que tem de ser consultado para que isso seja feito, já aprovou o projeto.
Nesse caso, o objetivo é mais científico: deseja-se entender como ocorre a colonização, primeiro por microalgas e bactérias que se incrustam nos blocos, depois por peixes em busca de alimentos.
O que está ficando cada vez mais claro para os cientistas é como a vida toma com facilidade as estruturas para si. Eles estimam que em dois anos o ecossistema se estabelece inteiramente, e depois de escolhido o lugar adequado não é preciso fazer nada além de deixar a natureza trabalhar.
Além de outras iniciativas com concreto no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, o Brasil também já afundou navios, como o rebocador Walsa, em 2009, em Recife, e o cargueiro grego Victory 8B, com 89 metros de comprimento, submerso desde 2003 no Espírito Santo. Ambos servem à pesquisa e ao turismo.
Para afundar vagões ou navios, é preciso retirar pneus, janelas, fios, baterias, resíduos de combustível e tinta. Fica só a estrutura metálica.
Frederico Brandini, professor titular do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e ex-presidente da MarBrasil, conta que a biodiversidade em um recife artificial é alta. “Existe muita complexidade no ambiente. São muitas tocas, buraquinhos. Vários organismos conseguem se fixar ali e isso atrai peixes. É um verdadeiro jardim.”
Além disso, o local tende a ser uma área protegida, em função da estrutura do objeto afundado –ficando por lá, peixes não são atingidos pela pesca de arrasto, por exemplo, e conseguem se esconder de predadores maiores.
No Paraná, já estão sendo vistas espécies de peixes, como neros e garoupas, que antes não habitavam nem corais naturais. O IO-USP pretende reproduzir a experiência no litoral norte de São Paulo.
Há quem seja mais criativo na hora de criar recifes. Os búlgaros, por exemplo, jogaram ao mar um avião em 2011.
O Tupolev-154, fabricado na União Soviética e parecido com um Boeing 727, pertencia ao ditador comunista Todor Zhivkov e foi utilizado, entre outros, por Fidel Castro. O avião, agora com frequentadores bem mais inofensivos, repousa hoje entre peixes a 700 metros da costa de Varna, onde virou ponto turístico.
Já os tailandeses preferiram mandar, em 2010, 25 tanques de guerra desativados (e inúteis) para o fundo do oceano, pois estavam preocupados com a redução no número de peixes na região.