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As dificuldades de uma mulher jovem no parlamento**

Crescemos ouvindo que política não é lugar de mulher. E confesso que até ser eleita, não entendia essa frase. Hoje, sei que não é que a política não seja nosso lugar, na verdade, os espaços políticos, dominados majoritariamente por homens, é que não foram construídos para nós.

Como a política é feita por e para homens, qualquer uma que ouse acessar esse espaço, é considerada uma transgressora por natureza.

Lembro-me de ter ficado alarmada quando soube que somente em 2016 foi construído um banheiro para as senadoras no plenário do Senado Federal. Antes, as parlamentares usavam o banheiro do restaurante anexo ao plenário. Foram anos de reivindicações e de questionamentos ao tratamento desigual, até que elas tivessem essa “conquista”.

Ao longo da história política do Brasil, os mandatos de mulheres sempre foram de muita luta.  Pensar no papel social desempenhado pelas mulheres sob a ótica da política é um exercício de reflexão, principalmente se levarmos em consideração a construção da sociedade e o machismo estrutural, em que o homem sempre ocupou o espaço público e a mulher, o privado. Sempre tivemos que levar o banquinho à mesa, porque não havia cadeiras para mulheres. Muitas de nós (não importa o cargo) fomos humilhadas, rebaixadas, ofendidas e até assediadas por tentarmos ocupar esses espaços.

Agora, imagine ser uma mulher jovem no parlamento.

Muitas vezes fui criticada com frases como “Quem essa menina pensa que é”, não pela minha idade, mas porque, para eles, uma mulher jovem não tem o direito de pensar e de emitir opinião. Questionam, com frequência, a nossa idade. Sempre somos muito jovens, ou então muito velhas. O que dá para perceber é que na política não existe idade certa para as mulheres.

A verdade é que, para alguns, a idade “certa” sempre será a do homem.

No cargo de vereadora, muitas vezes fui ameaçada de ser levada à comissão de ética por ter falado. Enquanto isso, as mesmas frases que eu falei ditas por homens, no mesmo contexto, num tom muito mais agressivo, eram aplaudidas. O machismo estrutural existe e persiste, mas nunca me calei. Sempre lutei contra, denunciei e escancarei o tratamento diferenciado recebido, simplesmente por ser mulher. Além disso, o machismo na política é diário e quase sempre vem disfarçado de opinião.

Assim, podemos entender porque o simbolismo de 8 de março sempre é tão importante.

A data celebra as muitas conquistas femininas ao longo dos últimos séculos, mas também serve como um alerta sobre os graves problemas de gênero que persistem em todo o mundo.

Conquistamos, com muita luta, o direito ao voto. Por isso, temos que fortalecer as mulheres no poder, desde as bases.

Muito mais do que votar, devemos participar!

A participação das mulheres na política é essencial e necessária, pois a representatividade feminina é fundamental na construção de políticas públicas e nas lutas pelos direitos das mulheres, em um cenário em que ainda há muita exclusão e ódio.

Também é urgente recordar que, além de eleger mulheres, é preciso apoiá-las em sua permanência: dada a violência do dia a dia na política, as mulheres com frequência não persistem por mais mandatos, o que as impede de conquistar novos espaços. Isso é inaceitável e só mudará com apoio às eleitas.

Lembremos que o bom governante é aquele que tem compromisso. E que, além de lutar pela democracia, ele precisa lutar, também, pela representatividade das mulheres nas ocupações dos espaços de representação na sociedade. Esses compromissos a maioria das mulheres demonstra ter de sobra.

Lohanna França, deputada estadual do PV (MG)

Crédito fotógrafo: Willian Dias

** Este artigo apresenta a opinião dos autores e é de sua inteira responsabilidade.