O estreitamento de programas como Bolsa Família e o Programa de Aquisição de Alimentos elevou o índice de pobreza do país e o colocou em situação de vulnerabilidade
Três anos depois de sair do mapa mundial da fome da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil deve voltar a ingressar a lista de países na qual mais de 5% da população não se alimenta o suficiente. Em 2014 o Brasil saiu do mapa e, à época, a FAO afirmou que a saída do país deu-se pela eficiência dos programas de combate à fome. De 2015 até agora, a economia brasileira afundou quase 10%, ampliando drasticamente o número de pobres.
Em 1994, 14,8% dos brasileiros viviam na miséria. Em 2014 esse número ficou em menos de 2% e fez com o país saísse da lista. Segundo o coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Francisco Menezes, a exclusão de famílias do Bolsa Família, iniciada ano passado, e a redução do valor investido no Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que compra do pequeno agricultor e distribui a hospitais, escolas públicas e presídios, “são uma vergonha para um país que trilhava avanços que o colocava como referência em todo o mundo”, entrevista concedida ao jornal O Globo. Francisco é também consultor da ActionAid e participou da elaboração do relatório produzido por um grupo de mais de 40 entidades da sociedade civil que monitora o cumprimento de um plano de ação com objetivos de desenvolvimento sustentável acordado entre os Estados-membros da ONU, a chamada Agenda 2030.
A insegurança alimentar grave é definida como quando uma pessoa passa o dia todo sem se alimentar por falta de recursos ou quando há uma redução drástica no consumo calórico das crianças de uma residência por falta de dinheiro e/ou assistência social. A pobreza hoje no Brasil só cresce. 14 milhões de pessoas estão desempregadas e mais 60 milhões estão inadimplentes. Corte de gastos em áreas sociais, desemprego em massa, sucateamento da educação e da saúde, precarização do trabalho e reformas como a trabalhista e da previdência vem apontando, ao contrário do que prega o governo, para o agravamento não só da crise mas também das condições de vida da classe média e da população mais pobre, a primeira a sentir os efeitos da economia. Hoje no Brasil temos essa estatística recorde de 14 milhões de desempregados, resultado da recessão iniciada no fim de 2014. Pesam ainda a crise fiscal, que tem levado União, estados e municípios a fazerem cortes em programas e políticas de proteção social, e a turbulência política.
O documento será entregue às Nações Unidas na semana que vem, durante a reunião do Conselho Econômico e Social, em Nova York.