O Brasil está enfrentando a pior crise energética e hídrica da história. Isso não é novidade para ninguém. Os problemas de abastecimento têm atingido toda a população brasileira, de São Paulo a Minas Gerais e caminhando até o Rio de Janeiro. A pergunta é: o que levou o país a esse colapso? A resposta é um punhado de soluções político imediatistas sem compromisso ou preocupação com diagnósticos técnicos e nem com ações concretas de planejamento para a oferta de energia no país.
A crise que estamos presenciando é uma repetição dos problemas que o país enfrentou em 2001, quando a falta de chuvas durante dois anos esvaziou os reservatórios das hidroelétricas que não conseguiram suprir a demanda. Na época, o racionamento só foi evitado graças à mobilização da própria população em economizar eletricidade, o que permitiu enfrentar a crise.
Hoje a situação segue mais alarmante que em 2001. O Cantareira, principal sistema de abastecimento da Grande São Paulo, não sobe há um mês, mesmo com as chuvas das últimas semanas. A última vez que o Cantareira subiu foi no dia 26 de dezembro de 2014. De lá para cá, se manteve estável ou perdeu mais água do que recebeu. O sistema terminou 2014 sem recuperar 492 bilhões de litros de água perdidos durante os 12 meses. O ano começou com o nível do reservatório em 27,2% e terminou com 7,2%. Segundo especialistas em gestão de recursos hídricos, o maior problema dessa crise são relacionados aos investimentos e ao cronograma de implementação, que não são cumpridos.
Ainda de acordo com especialistas, algumas medidas como o aumento da capacidade de oferta e a proteção de mananciais dos rios da poluição, da erosão e das ocupações irregulares, podem ser tomadas pelos atuais gestores. São medidas paliativas de curto prazo, mas que podem trazer um bom resultado. Já para a população, a recomendação é que o consumo de água seja reduzido.
As evidências da crise energética se manifestam em todo o território brasileiro. Em 2014, o nível útil da Represa Três Marias, localizada em Minas Gerais, chegou a zero, marcando o pior nível de sua história. Ainda em Minas Gerais, no Parque Nacional da Serra da Canastra, a nascente do Rio São Francisco secou. Considerado o maior rio totalmente brasileiro, a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco abrange 639.219 quilômetros quadrados de área de drenagem e sua vazão média é de 2.850 metros cúbicos por segundo, o que equivale a 2% do total do país. Ainda em 2014, no mês de julho, o nível de armazenagem do subsistema Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), responsável por 70% da capacidade instalada do Sistema Interligado Nacional (SIN), chegou a 34,30% da capacidade máxima, o menor nível registrado para o mês desde 2001.
O conjunto de problemas do setor só cresce. Está cada vez mais frequente a discussão sobre a possibilidade de racionamento sempre associadas às questões climáticas, mas a razão desta situação vai muito além. Em 2013, o governo implantou a Lei nº 12.783/13, que por meio da renovação das concessões do setor, buscou reduzir as tarifas no momento de regime de chuvas já adverso, incentivando o consumo ao invés de fornecer uma sinalização que favorecesse a economia e a conservação de energia.
É consenso entre especialistas que as medidas para solucionar essa crise não estejam em ações imediatas. A maior parte das medidas apontadas, algumas já adotadas pelo governo estadual, dependem de investimentos e levam tempo para ficarem prontas. Especialistas reforçam a necessidade do governo em ampliar a economia de água. Para piorar um pouco mais a situação de São Paulo, existe uma discussão de que até junho deste ano o Cantareira irá secar. A projeção de esgotamento, feita pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), aponta que esse cenário é possível caso as chuvas continuem 50% abaixo da média e a captação se mantenha nos níveis atuais.
À população resta economizar água. Os vasos sanitários que possuem dois acionamentos de descarga, com menor ou maior vazão, podem ser utilizados para a diminuição do consumo; a economia é de aproximadamente 30%. Além disso, o reaproveitamento da água da chuva também pode ajudar na redução. Essa atividade é indicada para atividades que não ofereçam risco de contaminação, como descarga de bacia sanitária e lavagem de piso.
Para entender mais do assunto, acesse a 12ª edição da Revista Pensar Verde
Larissa Itaboraí