Dia 3/12 é comemorado o Dia Mundial de luta contra o uso dos agrotóxicos. Desde de 2008, o Brasil é campeão na utilização de pesticidas, herbicidas e afins em suas atividades agropecuárias. E, se a alimentação é uma das bases para se manter saudável, os brasileiros estão longe de conseguir garantir uma boa saúde com tanto veneno na mesa. O problema para conter o uso desenfreado de substâncias tóxicas, muitas vezes proibidas em outros países, envolve questões econômicas e políticas. Só em 2013, por exemplo, o mercado de agrotóxicos rendeu US$11,5 bilhões. Esse lucro se concentrou principalmente nas empresas Monsanto, Basf, Syngenta, Dupont, Bayer e a Dow Chemical.
A Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, instituição que luta contra a utilização dos fertilizantes no Brasil, está promovendo em todo o Brasil ações de conscientização e busca por alternativas que produzam alimentos mais saudáveis com outro modelo de desenvolvimento agrário que incentive a agroecologia. Os grandes empresários do ramo juntamente com o Governo impuseram aos brasileiros a utilização de agrotóxicos nas atividades agropecuárias com a desculpa de que a comida que nos alimenta só pode ser produzida com muito veneno. Eles lucram muito com isso. E não é só nos alimentos propriamente que se concentram os agrotóxicos. Estes envenenam as águas, o solo e, em pequenas doses diárias, podem causar doenças graves, como o câncer.
De acordo com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), os agrotóxicos causam danos à saúde extremamente graves, como alterações hormonais e reprodutivas, danos hepáticos e renais, disfunções imunológicas, distúrbios cognitivos e neuromotores, dentre outros. No Brasil, as intoxicações por agrotóxicos já ocupam o segundo lugar entre as intoxicações exógenas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são registradas, todos os anos, cerca de três milhões de intoxicações agudas por agrotóxicos, com 220 mil mortes. Aproximadamente 70% dos casos acontecem nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Mas, o pior é que a própria OMS admite que para cada 50 quadros de intoxicação, apenas um é efetivamente notificado e contabilizado.
Segundo líderes do agronegócio no Brasil, o uso abusivo de agrotóxicos é justificado para se manter uma balança comercial positiva, pois, as safras recordes garantem os preços baixos, a inflação reduzida e os juros apaziguados. E, já que para se ter grandes safras é necessário aumento no plantio, consequentemente é utilizado maior quantidade de agrotóxico, segundo o modelo de agronegócio desenvolvido e incentivado no Brasil. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os fazendeiros brasileiros gastam, em média, 24% dos investimentos com fertilizantes químicos e mais 6% em sementes transgênicas. O modelo do agronegócio combina grande propriedade, mono cultivo, mecanização intensiva, pouca mão de obra e uso intensivo de venenos agrícolas.
No legislativo brasileiro, um grupo de deputados e senadores de vários partidos formam a chamada Bancada Ruralista, tem como objetivo incentivar o agronegócio, o trabalho escravo, o desmatamento, lutar contra a demarcação de terras indígenas, quilombolas e contra a reforma agrária. Kátia Abreu (PMDB/TO), Ronaldo Caiado (DEM/GO) e Luis Carlos Heinze (PP/RS) são alguns dos expoentes desta bancada. Estes políticos se elegem graças a altíssimas cifras doadas nas campanhas pelas empresas do agronegócio. Os ruralistas também dominam o Ministério da Agricultura, que recebeu a cifra de R$140 bilhões neste ano.
No ano passado, esta bancada aprovou uma lei (12.873/2013) que permite uso de agrotóxicos proibidos no Brasil por serem altamente nocivos. Após as eleições de 2014, os ruralistas declararam ter 51% do Congresso Federal. É necessária uma reforma política que decrete o fim das doações eleitorais de empresas para acabar com estas verdadeiras pragas da política brasileira.