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Espécie de sapo pingo-de-ouro é redescoberta depois de 100 anos

Uma espécie de sapo pingo-de-ouro que não era vista na natureza há quase 100 anos foi encontrada por pesquisadores na região da Área de Proteção Ambiental (APA) de Macaé de Cima, em Nova Friburgo. A espécie, Brachycephalus bufonoides, é endêmica da Mata Atlântica e havia sido descrita em 1920, mas nenhum outro exemplar foi encontrado desde então. Para surpresa dos pesquisadores que o reencontraram, o sapinho, apesar de sumido, parece estar muito bem, obrigado, e apresenta uma população estável. Com o achado, os pesquisadores puderam atualizar a descrição da espécie e até mesmo captar pela 1ª vez a sua vocalização, o canto que os machos emitem para atrair as fêmeas.

A bióloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Manuella Folly, que coordenou o estudo, explica que a descoberta foi feita por acaso, enquanto a equipe estava em busca de outro sapinho na APA de Macaé de Cima.

“As coletas em Nova Friburgo não são tão comuns. E nós estávamos lá atrás de uma outra espécie de pingo-de-ouro, que é um nome comum utilizado para várias espécies de sapinhos que têm essa cor amarela. Nós falamos com o guarda-parque da APA e ele nos disse que já tinha visto esse bicho que nós descrevemos e nos levou até o ponto onde tinha encontrado o tal sapo. Subimos cerca de 1h30 pela trilha – que é turística e leva para um mirante – e chegamos nesse lugar onde achamos muitos sapos pingo-de-ouro, mas que não eram da espécie que a gente estava procurando. Isso foi em 2015, quando nós fizemos a 1ª coleta do Brachycephalus bufonoides”, contou ao ((o))eco a pesquisadora.

“A população está estável, já voltamos lá outras duas vezes e em todas havia bastante sapo. Nós os observamos cantando, abraçando a fêmea, que é o abraço nupcial… a população está bem”, acrescenta Manuella.

O artigo que atualiza e completa a descrição do Brachycephalus bufonoides foi publicado no periódico Zootaxa nesta semana, e é assinado por Manuella e outros pesquisadores da UFRJ e do Museu Nacional.

A única descrição anterior da espécie, feita em 1920 pelo pesquisador Alípio de Miranda-Ribeiro, foi elaborada com base em apenas dois exemplares que integravam a coleção do Museu Paulista. Com a redescoberta do sapinho foi possível fazer uma análise morfológica mais completa e precisa, além de entender as variações existentes dentro da própria espécie, já que agora há uma população inteira para ser estudada.

“A gente não conhecia nada do bicho porque só havia dois exemplares. A alma da biologia é a variação. E nós coletamos uma amostra boa para ver a variação morfológica e fazer o que a gente chama de delimitar a espécie. Também não era conhecido o canto dessa espécie, que é espécie específico, então ele é único, cada espécie tem um. E nós conseguimos ver aonde essa espécie se encaixava dentro do gênero”.

Brachycephalus bufonoides faz parte do gênero Brachycephalus, que é composto por 36 espécies, todas elas endêmicas das regiões montanhosas da Mata Atlântica. A maioria delas apresenta essa coloração amarela que dá origem ao nome popular de sapo pingo-de-ouro. Com tamanho médio entre 14 e 16 milímetros, o bufonoides é até grandinho, comparado aos demais sapinhos do gênero.

Segundo a pesquisadora, o sapinho redescoberto possui hábitos diurnos e vive no chão ou em troncos um pouco mais elevados. “E têm que ter bastante folhiço [a serra pilheira], porque isso retém a umidade do solo”, explica. Ela conta também que eles têm o desenvolvimento direto, então não há a fase inicial de girino, já nascem “mini” sapinhos formados.

Os pesquisadores ainda não confirmaram qual a alimentação do sapo, mas acreditam que a dieta deles seja similar às outras do gênero, composta por aracnídeos e pequenos insetos.

O Eco