O curso Gênero e Sexualidade nas Escolas Fluminenses, projeto da UERJ em parceria com a Fundação Verde Herbert Daniel e a Sec. Municipal de Educação de São Gonçalo, teve como atividade final – onde foram entregues os certificados aos/às professores cursistas – as palestras do professor e antropólogo argentino Horacio Sívori, coordenador-geral do CLAM/IMS/UERJ, e do escritor e autor de novelas da TV Globo João Ximenes Braga (autor de “Lado a lado”, premiada com o Emmy Internacional, e de “Babilônia”, entre outras).
Ambos trouxeram, em suas falas, memórias e relatos de experiências pessoais em suas escolas, cada um partindo de um tema que mais o mobiliza: o primeiro relacionou sua rajetória aos temas da sexualidade e das discriminações advindas dela, como a homofobia, enquanto o segundo centrou sua fala nos temas da escravidão, da pretensa igualdade racial, do racismo e da (in)toleância religiosa.
Horacio Sívori lembrou dos tempos de colégio em Rosário (Argentina) em época de ditadura, em que expressar opiniões e o livre exercício da sexualidade poderia impor um problema a quem o fizesse. Lembrou da professora Rita, que foi quem primeiro o advertiu sobre o quão difícil é para as pessoas aceitarem as diferenças, (que mais tarde foi exilada de seu país). Em sua trajetória pessoal, pôde também observar os avanços (e algumas vezes retrocessos) na conquista por direitos de pessoas LGBT na Argentina e no Brasil, com especial ênfase na lei do casamento igualitário e na lei de identidade de gênero argentinas. Sívori fez uma comparação entre os dois países no que tange a questão dos processos de democratização, suas semelhanças e diferenças, ressaltando que por mais que haja um momento de crise na democracia brasileira, os avanços e conquistas não podem ser esquecidos.
João Ximenes Braga falou sobre como a história da escravidão é tratada no ensino e as graves consequências que isso traz para a nossa cultura. A partir de sua própria educação, recebida em uma escola tida como “o melhor colégio do Rio de Janeiro” e frequentado por “filhos da elite branca”, segundo suas próprias palavras, o escritor lembrou que o que aprendeu sobre a escravidão no Brasil foi que “os portugueses nos descobriram e os índios eram preguiçosos. Daí os esforçados colonizadores foram obrigados a buscar mão-de-obra em outras paragens. Trouxeram os africanos. Um dia a princesa Isabel teve pena e os libertou”.
E criticou as tentativas de apagar a memória negra e a história da escravidão, partindo do exemplo da descoberta das ossadas dos escravos africanos no cais do Valongo, durante as escavações da obra do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. E conclamou os/as professorxs cursistas a tratarem a história da escravidão com menos carinho: ” Escancarem o horror, façam seus alunos sofrerem com ele. Só assim vamos ter um país com nais empatia. Só assim vamos respeitar nossa diversidade étnica, cultural, sexual e de gênero “, afirmou o escritor.