No Dia Internacional dos Povos Indígenas, Daniel Iberê, do povo M’bya-Guarani, fala sobre o sentimento em relação ao etnocídio dos povos indígenas brasileiros
Do Acre, onde está atualmente, Daniel Iberê, membro do Conselho Indígena do Distrito Federal e doutorando em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), conversou com a Fundação Verde Herbert Daniel.
Em videochamada gravada em julho, com sua autorização, Daniel chama a atenção para o fato de que o etnocídio dos povos originários existe desde que o Brasil é “Brasil”. Ele refletiu sobre os sentimentos em relação à naturalização desse etnocídio – que existe há séculos, mas tem se intensificado de forma assustadora nos últimos três anos, como mostramos em dezembro de 2018 na matéria “Direitos indígenas no governo Bolsonaro”. E a pandemia também tem sido uma perigosa aliada do genocídio da população indígena em nosso país.
Ele questiona o estereótipo de primitivos, sem cultura, e critica a “inclusão” dos indígenas no mundo acadêmico. “Somos 305 povos milenares, 40 mil anos de culturas enraizadas. Entraram os nossos corpos nas universidades. Quando os nossos saberes entrarem nas universidades, elas serão diferentes.”
Iberê explica que seu povo é tapejara, tape que significa caminho e jará que significa senhor na língua guarani: senhor dos caminhos, em português. Sua família saiu de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, em direção ao Vale do Javari, no Amazonas, passando pelo sertão baiano e por Rondônia, até chegar, em 1996, e se estabelecer no polo agroflorestal Benfica em Rio Branco, no Acre. “Quando chegamos aqui, chegamos em uma terra adoecida. Foi ali que a gente começou a curar a terra. Com a ajuda de todos os seres que foram se somando.”
Confira um trecho da conversa com Daniel Iberê.