Relatório divulgado na última semana pelo WWF mostra que, desde o final da década de 1950, cerca da metade das savanas e das florestas naturais do Cerrado foram convertidas para a agricultura.
De acordo com o Relatório Planeta Vivo 2016 divulgado internacionalmente na última sexta-feira (28) pelo WWF, as atividades não sustentáveis de agricultura, especialmente a produção de soja e carne, assim como a queima da vegetação para a produção de carvão, permanecem como grandes ameaças à biodiversidade do Cerrado, bioma brasileiro localizado entre a Amazônia, a Mata Atlântica e o Pantanal. O uso inadequado do solo coloca o Cerrado entre as regiões mais ameaçadas e exploradas do mundo. O relatório traça um panorama mundial, mas destaca o Cerrado como um epicentro da perda acelerada de biodiversidade no mundo.
Segundo dados do relatório, desde a década de 50, mais da metade das florestas naturais e savanas do Cerrado foram convertidas para a agricultura. Com a extinção desses ecossistemas também desapareceu a vida silvestre que eles sustentavam e os serviços ambientais essenciais por eles providos, como água limpa, sequestro de carbono e solos saudáveis. Sem falar das espécies animais que estão ameaçadas de extinção, como a onça, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira, além de muitas outras plantas e animais que só existem no Cerrado. De acordo com o relatório, não são apenas os ecossistemas e as espécies frágeis que sentem o estresse. “A vida selvagem está desaparecendo das nossas vidas num ritmo sem precedentes”, a afirmação é do diretor geral da WWF Internacional, Marco Lambertini, ressaltando que isso diz respeito não apenas às populações de animais, mas também à biodiversidade que se constitui da base de florestas, rios e oceanos saudáveis.
O relatório alerta que, se a forma como os alimentos são produzidos não mudar, a vida no planeta e a vida selvagem global pode sofrer 67% de declínio em intervalo de apenas 50 anos, como resultado destas e outras atividades humanas. O estudo sugere que, para mudar esse quadro, são necessárias transformações no modo como as sociedades se abastecem e se alimentam.
Entre 1970 e 2012, população global de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram 58%. O relatório pinta um cenário sombrio para o futuro de que uma possível sexta extinção em massa poderá ocorrer. Isso significa que, num período de 50 anos, que termina em 2020, essas populações poderão ser reduzidas em até dois terços do total. É também no ano de 2020 que ficaram estabelecidas as metas para a redução de emissões de gases de efeito estufa e a diminuição de uso de combustíveis fósseis dos 196 países que assinaram o Acordo de Paris, limitando o aquecimento global ao máximo de 2ºC acima dos níveis pré-industriais.
Segundo o WWF, as medidas previstas no acordo poderão contribuir para garantir as reformas necessárias nos sistemas de produção de alimentos e de energia para proteger a vida selvagem em todo o mundo.
Esperança – De acordo com os autores do estudo, a esperança está na “mudança urgente do sistema, do comportamento individual, das empresas e dos governos”, além dos exemplos sobre a gestão de recursos naturais ou os recentes acordos globais sobre as alterações climáticas, em particular a Agenda para o desenvolvimento sustentável 2030. “Sabemos o que é preciso para construir um planeta fortalecido para as gerações futuras, só precisamos é agir de acordo com esse conhecimento”, afirmou Marco Lambertini.
O Planeta Vivo 2016, principal publicação bianual do WWF, acompanhou mais de 14 mil populações de vertebrados de mais de 3,7 mil espécies, entre 1970 e 2012. O relatório utiliza o Índice do Planeta Vivo, criado pela Sociedade Zoológica de Londres, que acompanha as tendências da vida selvagem e revela de que modo ocorre a diminuição das populações de animais.
O estudo conclui que o planeta está entrando num “território completamente inexplorado na sua história”, onde a humanidade “molda as mudanças na Terra”.