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Porque o Dia da Amazônia nunca foi tão importante

Uma série de homenagens em todo o Brasil buscam conscientizar as pessoas sobre a necessidade de preservar e proteger a maior floresta tropical do planeta

Este ano será marcado por homenagens ao Dia da Amazônia, comemorado em 5 de setembro. A data foi instituída em 2007 para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de preservar e proteger o bioma que abriga a maior biodiversidade do planeta.

Uma dessas homenagens é o Festivais Dia da Amazônia 2022, que acontece entre os dias 3 e 10 de setembro em oito cidades brasileiras – Belém, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Manaus, São Luís, São Paulo, Santarém e Macapá.

Com o tema desenvolvimento sustentável e preservação da floresta Amazônica e uma vasta programação gratuita, a iniciativa tem produção e apoio de várias organizações socioambientais, entre elas: Reocupa, Namaloca, Psica, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Murerú Produções, Conselho Indígena Tupinambá (CITupi), Movimento Tapajós Vivo (MTV), Terra de Direitos.

Em entrevista à Agência Brasil, a membra do Reocupa e uma das organizadoras do Festivais, Deuza Brabo, explicou que o evento foi planejado para que o tema passe a ser debatido no contexto das cidades.

“A Amazônia é muito conversada e debatida no âmbito rural, onde está instalada e, no âmbito urbano, as pessoas ficam um pouco assustadas com essa conversa.”

Com isso, Deuza acredita que o público será despertado para a necessidade não só de reflexão, mas também de ação, de engajamento e de mudança de comportamentos.

“Quem está na cidade, não consegue perceber essa urgência, embora estejamos sendo atingidos diretamente, como as populações ribeirinhas, pescadora, tradicional, que está na zona rural.”

Deuza Brabo

Outra homenagem ao Dia da Amazônia é a mostra Amazônia: passado, presente e futuro, realizada pelo CineSesc e pela O2 Filmes, com apoio da Mídia Ninja. Serão duas sessões especiais gratuitas, nos dias 1º e 8 de setembro, seguidas de bate-papo com convidados.

Na quinta-feira (1º/9), foi a estreia do documentário Segredos do Putumayo. Dirigido por Aurélio Michiles, o filme narra as investigações do ativista irlandês Roger Casement, então cônsul britânico no Brasil, sobre a escravização e o assassinato de milhares de indígenas que eram forçados a trabalhar na coleta de borracha.

No dia 8 de setembro, será a estreia do documentário O Território. O filme retrata a luta incansável do povo indígena Uru-eu-wau-wau contra o desmatamento promovido por posseiros, grileiros e garimpeiros na Amazônia brasileira.

Dirigido por Alex Pritz, produzido por Txai Suruí, coproduzido e parcialmente filmado pela recém-criada equipe de mídia dos Uru-eu-wau-wau, o filme ganhou dois prêmios em Sundance (público de documentário na categoria internacional e especial do júri de obra documental).

Também é importante destacar que cerca de 200 imagens do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado compõem a mostra Amazônia, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

Idealizada por Lélia Wanick Salgado, a exposição resulta de registros de sete anos de experiências e expedições de Sebastião pela Amazônia. São um verdadeiro mergulho no coração da floresta e um convite para refletir sobre a necessidade e a urgência de preservá-la. O público poderá conferir os cliques do fotógrafo até 29 de janeiro de 2023.

A importância das homenagens

É importante que essas homenagens se intensifiquem cada vez mais e que as informações e as possíveis ações de proteção e preservação da floresta cheguem a um maior número de pessoas. As campanhas de conscientização, os avisos, as pesquisas, os dados, tudo aponta para o sério risco que, mais do que nunca, a Amazônia corre.

Segundo dados divulgados na quinta-feira (1º/9) pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a agosto de 2022, foram registrados 46.022 focos de incêndio na Amazônia, 33.116 apenas em agosto. O pior resultado dos últimos 12 anos.

A resistência do atual governo brasileiro às políticas ambientais de preservação, conservação e proteção contribui para que, frequentemente, vejamos cenas estarrecedoras da floresta queimando.

Desde que Bolsonaro assumiu a presidência, os focos de queimadas sempre estiveram acima de 28 mil, um resultado superior à média histórica para o mês de agosto – 26 mil, desconsiderados os valores de 2022.

Só para se ter uma ideia da gravidade desses resultados, as queimadas afetaram seriamente a qualidade do ar na América do Sul de acordo com o Programa de Monitoramento Ambiental Corpenicus da União Europeia.

Como a biodiversidade está conectada em todo o planeta, as constantes e cada vez mais aceleradas atividades de exploração e destruição da floresta Amazônica, assim como as ilhas de plástico e os altos índices de poluição do ar, por exemplo, vão atingir todos nós.

O impacto das ações humanas na Amazônia

A conferência Ciência e Meio Ambiente, proferida na quarta-feira (31/8) pela doutora em Ecologia Ima Célia Guimarães Vieira, uma das maiores especialistas em Amazônia e ativista em defesa da floresta e seu povo, não poderia ter acontecido em melhor momento.

Segunda da série Contagem regressiva para o bicentenário: rumos à Independência, organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil, a conferência mostra a grande parcela de responsabilidade que todos temos na preservação da Amazônia.

Ima Célia Guimarães Vieira/Reprodução YouTube

Com dados sobre os graves efeitos das ações humanas para a vida do planeta, em especial, para a Amazônia, a respeitada pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi suscitou uma série de questões sobre o tema e mostrou a crucial importância da ciência no combate à destruição da vida no planeta, principalmente na Amazônia.

A especialista lembrou que, devido aos devastadores efeitos da antropização (ação, ato ou resultado da atuação humana sobre o meio ambiente com intencionalidade de modificar, de transformar) em tão curto espaço de tempo, os cientistas denominaram o atual período geológico de antropoceno.

Com base nisso, redesenharam a distribuição dos biomas em função das áreas mais afetadas e as denominaram de antromas. De acordo com Ima, 39% dos sistemas naturais do planeta se transformaram em terras agrícolas e assentamentos humanos.

Ima levanta a questão sobre como essas marcas do antropoceno aparecem na Amazônia e reitera que é preciso compreender como a região vem, histórica e ecologicamente, se comportando em relação às ações humanas.

A Amazônia no antropoceno

Muitas transformações aconteceram na região amazônica ao longo dos anos impulsionadas por projetos de exploração, expansão e desenvolvimento sem preocupações socioambientais.

De acordo com Ima, a partir do final do século 20, houve um aumento exponencial do uso da terra da floresta para a agricultura e a pecuária, chegando a 22% em 2021. Em 1970, esse percentual era de cerca de 0,5%.

Os primeiros estudos sobre os impactos do desmatamento e das queimadas na Amazônia, realizados na década de 1980, mostraram que a floresta ainda era resistente à ação humana e tinha alta capacidade de regeneração, exceto as áreas de pastagem.

Ima explica que, além disso, os cientistas alertaram sobre o alto impacto ambiental da exploração predatória de madeira e o aumento da inflamabilidade da vegetação, mesmo sendo uma vasta e úmida floresta de terra firme.

“A floresta não evoluiu com o fogo como a vegetação do Cerrado. Ela é um bioma muito sensível ao fogo.”

Ima Célia Guimarães Vieira

A ciência vem mostrando que, sem controle do desmatamento e da temperatura do planeta, os cenários para a Amazônia são muito ruins.

De acordo com Ima, 49% das espécies arbóreas da floresta apresentam algum risco de extinção. Se nada mudar, até 2050, a floresta estará reduzida a 53% a oeste e terá perdido até 58% das espécies arbóreas.

Amazônia como território da esperança

Não é de hoje que a defesa, preservação e proteção da floresta têm sido duramente ameaçadas por afrouxamento de leis, anistia de multas ambientais, ganância de garimpeiros, madeireiros e agropecuaristas.

Com o status de maior floresta tropical, a Amazônia é centro das atenções de todo o mundo devido a sua importância no cenário de crise climática. Ela é um repositório ecológico para as populações locais e para o planeta, portanto faz brotar a esperança de futuro.

Mas a floresta também tem sido alvo da exploração, da devastação, da destruição. Seus maiores protetores e defensores são os povos tradicionais, que têm resistido bravamente aos movimentos de destruição e de retrocesso em relação às demarcações de suas terras na região, às invasões e aos assassinatos.

Infelizmente, centenas de indígenas têm perdido a vida por lutar em prol da floresta. Segundo o relatório Violência contra os povos indígenas do Brasil, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os ataques aos povos originários aumentaram na gestão Bolsonaro: foram registrados 355 casos de violência ao longo de 2021 e 176 assassinatos.

Na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em novembro de 2021, na Escócia, a jovem ativista do povo indígena Paiter Suruí, Txai Suruí, única representante brasileira a discursar na abertura oficial da conferência com lideranças de todo o mundo, enfatizou a urgência de frear as mudanças climáticas e destacou a crucial relevância dos povos indígenas na proteção da Amazônia.

“A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo. […] Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui.”

Trecho do discurso de Txai Suruí na COP26

Por Caroline Cardoso – Comunicação FVHD

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