O Dia Mundial da Vida Selvagem 2022 destaca a urgência de reverter o destino de espécies ameaçadas e restaurar seus habitats e ecossistemas
“O Dia Mundial da Vida Selvagem é uma oportunidade para celebrar a vida selvagem e a natureza da qual todos dependemos. Quando perdemos espécies, ecossistemas inteiros podem ser deteriorados e desaparecer. Precisamos de ecossistemas saudáveis para garantir que as espécies possam sobreviver e prosperar”, explica Martha Rojas Urrego, secretária geral da Convenção de Ramsar sobre Áreas Úmidas, em uma mensagem sobre o tema da celebração deste ano.
Os holofotes do Dia Mundial da Vida Selvagem 2022 estão voltados para o debate sobre a urgência em se reverter o destino de espécies ameaçadas e promover a restauração de seus habitats e ecossistemas e o uso sustentável do meio ambiente.
Com o tema “Recuperação de espécies para restauração de ecossistemas”, a Organização das Nações Unidas (ONU) pretende não só impulsionar discussões sobre as espécies da fauna e da flora ameaçadas em todo o mundo, mas também somar esforços para que soluções sejam pensadas e ações de proteção e conservação, implementadas.
Segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), mais de 40 mil espécies do mundo todo estão ameaçadas de extinção e mais de oito mil espécies de flora e fauna selvagens estão criticamente ameaçadas.
São consideradas ameaçadas as espécies nas categorias vulnerável, em perigo e criticamente em perigo. As espécies extintas na natureza, ou seja, que dependem de programas de reprodução em cativeiro, também são consideradas ameaçadas pela legislação brasileira.
O tamanho da ameaça no Brasil
Também temos nossa própria lista vermelha. A pesquisa Contas de Ecossistemas: Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil, publicada em novembro de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em 2014 mais de três mil espécies da fauna e da flora brasileira estavam ameaçadas – quase 20% do total de 16.645 espécies avaliadas.
O referido estudo analisou listas de espécies nacionais oficiais de 2014 e avaliações de 4.617 espécies da flora realizadas pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora) e de 12.262 espécies da fauna realizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O número de espécies de plantas reconhecidas no país é de 49.168 e o de espécies animais ultrapassa 117 mil, mas se estima que esse número seja maior que 137 mil.
Do total de espécies brasileiras verificadas no estudo, 0,06% estão extintas; 0,01% estão extintas na natureza; 4,73% estão criticamente em perigo; 9,35% estão em perigo; 5,74% são vulneráveis; 3,98% estão quase ameaçadas de extinção e 62,82% são menos preocupantes.
Entre aves, anfíbios, mamíferos e peixes brasileiros, há uma espécie de ave extinta na natureza, o mutum-do-nordeste, e pelo menos dez espécies extintas, por exemplo, o tubarão-lagarto (peixe), a arara-azul-pequena (ave), o rato-de-noronha (mamífero) e a perereca-verde-de-fímbria (anfíbio).
Em relação aos biomas ameaçados, as Contas de Ecossistemas do IBGE mostram que Pantanal e Amazônia apresentam o menor percentual de espécies ameaçadas – 4,7%. O Pampa tem 14,5%; a Caatinga, 18,2%; o Cerrado, 19,7% de espécies ameaçadas. No entanto, o bioma mais ameaçado em 2014 foi a Mata Atlântica, com 25%.
As ameaças à vida selvagem
Várias são as ameaças que têm provocado perda contínua de espécies, habitats e ecossistemas, com um declínio significativo e até a extinção de espécies selvagens. Mudanças climáticas, desmatamento, comércio ilegal e conflitos com humanos são algumas dessas ameaças.
Essa perda representa um grande perigo para a vida no planeta. Todos os seres dependem da biodiversidade e de ecossistemas saudáveis para sobreviver. E, embora os benefícios do equilíbrio ecossistêmico sejam claramente visíveis, apreciados e desejados pela maioria das pessoas, pois nos permitem sobreviver e nos fornecem alimentos e meios de subsistência, estamos sentindo os efeitos catastróficos da busca desenfreada por esses benefícios.
Uma das graves ameaças a todas as espécies é a elevação da temperatura do planeta. O aquecimento global é mortífero para muitas espécies e tem causado impactos visíveis em espécies que dependem diretamente da temperatura como os peixes, inclusive provocando mudanças em sua distribuição.
Outra ocorrência letal para as espécies silvestres, diretamente ligada ao aquecimento global, é o desmatamento. A retirada da cobertura vegetal de determinado local desencadeia uma série de problemas como alterações climáticas, perda da biodiversidade e degradação de habitats. Essa é uma prática histórica no país, porém, atualmente, um dos maiores responsáveis pelo desmatamento é o setor do agronegócio.
O comércio ilegal é outro grande perigo que correm as espécies silvestres. Além de ser uma prática criminosa, ele promove a destruição da biodiversidade e é uma das práticas que podem estar por trás da pandemia, como mostra uma matéria da Fundação Verde de março do ano passado. O tráfico de animais é a terceira maior atividade ilícita do mundo, segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas).
No Brasil, 38 milhões de animais silvestres são retirados da natureza todos os anos e, desse total, nove em cada dez animais traficados morrem antes de chegar às mãos do consumidor final. Ainda segundo a Renctas, de cada 100 animais capturados ilegalmente, 70 são vendidos em território nacional e 30 são enviados ao exterior.
Também são um sério risco para a extinção de espécies silvestres os conflitos entre humanos e animais selvagens. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e do World Wide Fund for Nature (WWF), publicado em 2021, revela que mortes relacionadas a esses conflitos afetam mais de 75% das espécies de gatos selvagens do mundo, além de muitas outras espécies terrestres e marinhas como focas-monge, ursos-polares e elefantes, por exemplo. O contato entre humanos e animais selvagens geralmente provoca a morte dos animais, seja em “legítima defesa”, seja em razão da fome e da pobreza, seja em ações retaliatórias ou preventivas.
Por Caroline Cardoso