O aumento cada vez maior do consumo e do desperdício de água vai obrigar os países a estabelecerem políticas públicas para regular seu uso. Pelo menos, esta é a conclusão é do 3º Relatório das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Mundial dos Recursos Hídricos, divulgado no 5º Fórum Mundial da Água, realizado em março, em Istambul, na Turquia.
O documento revela que diversos países já estabeleceram essas políticas, mas ainda há necessidade de maior envolvimento. O relatório também informa que, ao mesmo tempo que o consumo tem aumentado, também aumenta o número de pessoas sem acesso à água de qualidade e ao sistema de saneamento básico.
Segundo o relatório, o crescimento da população, aliado aos hábitos da vida moderna, farão o consumo se elevar drasticamente. Estima-se que anualmente nasçam 80 milhões de crianças no mundo. Esse aumento espontâneo gera um incremento anual de 64 bilhões de metros cúbicos na demanda por água.
A agricultura também responde por uma parcela significativa: 70% do consumo atual. Os autores estimam que se não forem tomadas medidas para conter o uso, a procura mundial pode crescer 90% até 2050.
O reverso da moeda. Ao mesmo tempo em que o consumo explode, também cresce o número dos que não têm acesso à água potável. Estima-se que 5 bilhões de pessoas (algo em torno de 67% da população mundial) vão continuar sem acesso a esse recurso natural até 2030, se o cenário atual for mantido. Essas pessoas em geral também não têm acesso ao saneamento básico.
Embora a ONU tenha estabelecido como meta reduzir pela metade, até 2015, o percentual da população sem acesso sustentável a uma fonte adequada de água e ao saneamento básico, há países ainda muito distantes dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Um deles é a África. Na região ao sul do Deserto do Saara, conhecida como subsaarina, por exemplo, 340 milhões de pessoas vivem sem qualquer acesso a esse recurso natural.
O relatório da ONU mostra uma estreita e triste ligação entre pobreza e recursos hídricos. O número de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia é praticamente o mesmo que sobrevive sem água potável. As crianças são as mais afetadas por doenças decorrentes da falta de saneamento. Mal cuidadas, morrem frequentemente e engrossam as estatísticas. Hoje, as doenças relacionadas à qualidade da água causam 3 milhões de mortes por dia.
Números impressionantes:
>> Mais de 1 bilhão de pessoas já não terem acesso a água de boa qualidade
>> 2,5 bilhões não têm acesso a redes de coleta de esgotos.
>> A agropecuária usa cerca de 70% da água tem aumentado o consumo com o aumento da demanda. Por exemplo: (1 quilo de trigo exige de 400 litros a 1 mil litros para ser produzido, 1 quilo de carne, entre 1 mil e 20 mil litros).
>> Um ser humano precisa de 3 litros diários para beber, mas precisará de 3 mil litros por dia para produzir seus alimentos.
>> 4 mil crianças com menos de cinco anos morrem no mundo por conta das doenças veiculadas pela água não-tratada.
>> 23% da população mundial defeca ao ar livre.
>> Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no país há 34,5 milhões de pessoas (28,6% da população urbana) sem acesso à rede de esgoto.