PÓS-COP: O QUE ACONTECERÁ A PARTIR DE AGORA? Desafios, caminhos e transformações para os próximos anos

Por Allan Moreno Magri
Gerente Administrativo-Financeiro e Coordenador de Projetos – Fundação Verde Herbert Daniel
Especialista em ESG, Sustentabilidade, Governança e Gestão Pública
LinkedIn: www.linkedin.com/in/allanmagri-esg


INTRODUÇÃO: O VERDADEIRO TESTE COMEÇA AGORA

O verdadeiro teste para a ambição climática global não está nos corredores da COP, mas na fase que a sucede: a implementação. Após os discursos, negociações e anúncios, inicia-se o período que realmente decide o futuro da agenda climática mundial. É no pós-COP que se mede a distância entre discurso e prática, entre promessa e execução, entre metas e orçamento. O mundo agora observa com mais rigor, mais cobrança e mais urgência.

GEOPOLÍTICA CLIMÁTICA: DISPUTA POR LIDERANÇA

O tema climático já não é apenas ambiental — é geopolítico. Não se trata mais de “preservar a natureza”, mas de estabelecer quem liderará a economia do futuro. Países emergentes como Brasil, Índia e Indonésia fortalecem suas posições estratégicas, enquanto China e Estados Unidos travam uma disputa silenciosa por dominação tecnológica, energética e diplomática.

Para o Brasil, a pressão aumenta: a Amazônia se torna ponto central da diplomacia internacional. O país carrega o símbolo do maior bioma tropical do planeta — e isso exige coerência entre discurso, políticas públicas, combate ao desmatamento e fortalecimento da bioeconomia.

FINANCIAMENTO CLIMÁTICO: A BASE DA TRANSIÇÃO

Sem financiamento não há transição energética, adaptação, preservação, nem governança climática.

Três pilares definem o futuro imediato:

1. Taxonomias Sustentáveis 
As taxonomias — listas oficiais do que pode ser considerado “verde” — definem os rumos dos investimentos. A Taxonomia Sustentável Brasileira coloca o país na rota internacional de finanças verdes, criando critérios claros para o mercado.

2. Fundos Internacionais 
O Fundo Verde para o Clima, o Fundo Global para o Meio Ambiente e o novo Fundo de Perdas e Danos serão decisivos. Países vulneráveis exigem que nações ricas cumpram a promessa histórica de financiamento climático.

3. Governança, Transparência e Auditoria 
O mundo exige comprovação técnica: adicionalidade, impacto real, métricas verificáveis e auditorias independentes. ESG, due diligence e relatórios climáticos deixam de ser opcionais: tornam-se normativos.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: ENTRE O URGENTE E O POSSÍVEL

A transição energética vive um conflito permanente. A ciência pede velocidade. A geopolítica pede cautela. A economia pede equilíbrio.

Três movimentos moldarão os próximos anos:

– A aceleração das energias renováveis, puxada pela queda de custos e inovação.
– O debate sobre transição justa, garantindo proteção social para trabalhadores e territórios dependentes de combustíveis fósseis.
– A ascensão de tecnologias como hidrogênio verde, baterias de longa duração e redes inteligentes.

O Brasil, com matriz relativamente limpa, se posiciona como potência verde, mas precisa garantir planejamento de longo prazo, reindustrialização sustentável e inclusão regional.

MERCADO DE CARBONO: INTEGRIDADE OU DESCRÉDITO

O tema mais sensível do pós-COP é o mercado de carbono. Ele pode gerar bilhões em financiamento climático — ou ruir por falta de credibilidade.

Dois pontos são decisivos:

1. Regulação do Artigo 6 
A regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris define como países e empresas poderão comercializar créditos de carbono de forma transparente, sem dupla contagem e com verificação independente.

2. Brasil como Protagonista 
O país tem enorme potencial em restauração florestal, agricultura regenerativa e energias renováveis. Porém, sem marco regulatório claro, o risco de créditos de baixa integridade é real — e pode comprometer a reputação internacional.

ESG PÓS-COP: O FIM DO GREENWASHING

A COP e o pós-COP inauguram uma nova era: ESG deixa de ser tendência e se transforma em obrigação regulatória. Investidores internacionais exigem:

– Planos de transição alinhados ao Acordo de Paris. 
– Governança climática no nível de conselho. 
– Transparência total sobre emissões e riscos biofísicos.  

Empresas sem metas, sem plano ou sem métricas verificáveis perdem competitividade e acesso a capital.

JUSTIÇA CLIMÁTICA: A TRANSIÇÃO PRECISA SER PARA TODOS

A COP das pessoas continua fora dos palcos. Povos indígenas, comunidades tradicionais, juventudes e trabalhadores vulneráveis não podem ser excluídos. Isso significa:

– Participação plena nos processos decisórios. 
– Proteção territorial e direitos socioambientais assegurados. 
– Políticas públicas que reconheçam desigualdades históricas.  

Sem justiça climática, não existe transição justa — e sem transição justa, não existe transição possível.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS

A transição climática depende de pessoas. De lideranças formadas, cidadãos conscientes, gestores preparados, técnicos qualificados. O pós-COP fortalece:

– Redes de liderança climática. 
– Programas de educação ambiental. 
– O papel do terceiro setor como articulador entre ciência, governo e comunidades.  

Formar gente preparada é tão importante quanto financiar infraestrutura e tecnologia.

OS PRÓXIMOS 24 MESES: IMPLEMENTAR OU REGREDIR

Segundo o IPCC, o mundo tem menos de dois anos para garantir que a janela de 1,5°C permaneça aberta. Isso implica:

– Aumentar a ambição climática das NDCs. 
– Garantir governança federativa entre União, estados e municípios. 
– Financiar projetos de mitigação e adaptação. 
– Monitorar e auditar políticas com rigor técnico.

Se os próximos 24 meses forem lentos, o custo social, econômico e climático será muito maior.

PERSPECTIVAS ATÉ 2030 E 2050: O MODELO DE DESENVOLVIMENTO EM DISPUTA

O futuro da humanidade será decidido na forma como encararmos a crise climática. Até 2030 e 2050, o Brasil precisa:

– Reduzir emissões com velocidade. 
– Consolidar a economia de baixo carbono. 
– Fortalecer a bioeconomia amazônica e a inovação nacional. 
– Investir em educação, governança e inclusão social.  

Não é apenas uma pauta ambiental — é um projeto de país.

CONCLUSÃO: O PÓS-COP COMO PONTO DE PARTIDA

O pós-COP não marca um fim. Marca um início. O momento em que discursos precisam virar políticas, planos precisam virar orçamento e metas precisam virar impacto real.

A COP passa. 
Mas a responsabilidade fica. 
E o que fizermos agora vai definir o futuro climático do Brasil e do mundo.

REFERÊNCIAS

IPCC. Sixth Assessment Report. Intergovernmental Panel on Climate Change, 2023.
UNFCCC. Conference of the Parties – Decisions and Reports. United Nations, 2024.
ONU. Emissions Gap Report 2024. UNEP, 2024.
OCDE. Climate and Resilience Policies. OECD Publishing, 2023.
IEA. World Energy Outlook. International Energy Agency, 2024.
BRASIL. Ministério da Fazenda; BNDES. Taxonomia Sustentável Brasileira. Brasília, 2024.

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