Escrito por:
Por Allan Moreno Magri
Gerente Administrativo-Financeiro e Coordenador de Projetos – Fundação Verde Herbert Daniel
Especialista em ESG, Sustentabilidade e Governança | Comitês ABNT/ISO
LinkedIn: www.linkedin.com/in/allanmagri-esg
1. Introdução: pós-COP30, o Brasil entra em uma nova fase de responsabilidade climática
A COP30, realizada em Belém, deixou um marco incontestável: o mundo espera que o Brasil assuma um papel de liderança efetiva no mercado global de carbono, sustentado por integridade, governança e capacidade técnica. Não é um protagonismo por retórica — é por condições reais.
A conferência também reforçou a importância de instituições do Terceiro Setor que, ao longo dos anos, atuam na construção de uma agenda climática madura. Entre elas, destaca-se a Fundação Verde Herbert Daniel (FVHD), que consolidou sua presença defendendo uma pauta ambiental baseada em ciência, participação social, políticas públicas e integridade climática. No pós-COP30, essa atuação ganha ainda mais relevância: o país entra em uma nova fase em que a governança climática precisa dialogar diretamente com financiamento verde, mercado regulado e políticas de desenvolvimento sustentável.
O Brasil reúne elementos que o tornam central na geopolítica climática:
- maior biodiversidade do planeta;
- biomas estratégicos para a estabilização do clima global;
- potencial extraordinário de energias renováveis;
- agricultura de escala continental;
- cadeias de bioeconomia em expansão;
- capacidade técnico-científica de desenvolver metodologias alinhadas a padrões internacionais (ABNT/ISO).
Mas ativos naturais não garantem liderança.
O que garante liderança é credibilidade, governança, rastreamento confiável e integração entre políticas públicas, setor privado e sociedade civil.
E é nesse ponto que a Fundação Verde Herbert Daniel permanece atuando de forma estratégica — conectando ciência, governança, educação ambiental e inovação climática para fortalecer o papel do Brasil nesse novo capítulo pós-COP30.
2. A regulação brasileira avança: o arcabouço que nasce do “tripé” integridade–monitoramento–transparência
2.1 Integridade ambiental
No cenário pós-COP30, integridade é palavra de ordem. O mercado de carbono global exige que cada crédito represente:
- redução real e adicional;
- permanência mensurável;
- rastreabilidade via metodologias robustas;
- auditorias independentes conforme ABNT/ISO;
- alinhamento com NDCs e Inventário Nacional.
A FVHD tem desempenhado papel importante ao fomentar educação climática e apoiar projetos que reforçam a necessidade de metodologias sérias, especialmente na Amazônia e no Cerrado.
2.2 Monitoramento, Relato e Verificação (MRV)
O “novo MRV” é tecnológico e contínuo, exigindo:
- dados geoespaciais;
- monitoramento por satélite;
- integração com blockchain para rastreabilidade;
- verificação independente;
- interoperabilidade com sistemas internacionais.
A integridade técnica do mercado brasileiro dependerá dessa capacidade de monitorar, registrar e comprovar reduções e remoções.
2.3 Transparência e governança pública
Um mercado confiável nasce de:
- regras claras;
- registro público unificado;
- prevenção de dupla contagem;
- participação social em governança;
- integração entre União, estados e municípios;
- atuação de instituições do Terceiro Setor — como a FVHD — na articulação de conhecimento e educação ambiental.
3. O Artigo 6: onde o Brasil pode realmente ser gigante
Artigo 6.2 – Transferências bilaterais
O mecanismo permite negociações diretas entre países de créditos chamados ITMOs. O Brasil pode:
- comercializar créditos de alta integridade;
- estabelecer acordos com países da OCDE, União Europeia e Ásia;
- estruturar programas estaduais e municipais de descarbonização.
Artigo 6.4 – Mercado supervisionado pela ONU
O novo mecanismo é mais rigoroso, transparente e exige metodologias atualizadas. O Brasil pode liderar em:
- projetos florestais;
- restauração;
- agricultura de baixo carbono;
- energias renováveis;
- manejo de resíduos;
- mitigação de metano.
Artigo 6.8 – Abordagens não-mercado
A “porta escondida” do Artigo 6. O Brasil pode estruturar:
- políticas de adaptação;
- investimentos em bioeconomia;
- programas de preservação florestal;
- soluções climáticas comunitárias.
Aqui o papel de entidades como a FVHD é essencial para articular conhecimento, capacitação e políticas públicas.
4. Oportunidades estratégicas para o Brasil pós-COP30
4.1 Créditos de alta integridade: o diferencial brasileiro
O mercado pós-COP30 não aceita “crédito fantasia”. Os compradores exigem:
- adicionalidade robusta;
- governança científica;
- benefícios sociais integrados;
- rastreamento digital.
Com governança adequada, o Brasil pode criar créditos premium, valorizados globalmente.
4.2 Municípios como protagonistas da ação climática
Após a COP30, cidades ganham papel central:
- inventários municipais;
- políticas de mitigação e adaptação;
- projetos de resíduos;
- arborização e reflorestamento urbano;
- integração com ferramentas de mercado de carbono.
A FVHD tem atuado fortemente nesse campo, especialmente em programas de formação e apoio a lideranças municipais e regionais.
4.3 Agricultura e pecuária de baixo carbono
O agro brasileiro é parte da solução. Com metodologias como:
- ISO 14064 aplicada ao campo;
- práticas regenerativas;
- redução de metano;
- manejo de pastagem;
- agricultura digital.
O Brasil pode se tornar modelo global de carbono no solo e na pecuária sustentável.
4.4 Amazônia como centro da economia climática
A Amazônia pós-COP30 é vista como:
- ativo climático;
- epicentro da bioeconomia;
- polo de inovação;
- laboratório vivo de soluções baseadas na natureza.
A Fundação Verde Herbert Daniel vem fortalecendo esse debate, sobretudo em projetos voltados à educação ambiental, governança florestal e bioeconomia comunitária.
5. Riscos que podem comprometer a credibilidade brasileira
5.1 Greenwashing e créditos de baixa integridade
O pós-COP30 será implacável com práticas de maquiagem climática.
5.2 Falhas de MRV
Sem rastreamento contínuo, o mercado perde credibilidade.
5.3 Insegurança jurídica
Mudanças abruptas de regras afastam investidores.
5.4 Desconexão com povos indígenas e comunidades tradicionais
Sem inclusão, não há legitimidade socioambiental.
6. Conclusão: a integridade é o caminho — e o Brasil está diante da maior oportunidade climática da sua história
O Brasil tem tudo: biodiversidade, território, ciência, setor privado engajado e instituições do Terceiro Setor — como a Fundação Verde Herbert Daniel — que fortalecem educação climática, governança democrática e avanço técnico.
O mercado de carbono pós-COP30 exige:
- confiança;
- metodologia;
- transparência;
- inclusão social;
- e integridade acima de interesses imediatos.
Sem integridade, não há mercado. Com integridade, o Brasil vira potência climática global.
Referências (ABNT)
IPCC. Sixth Assessment Report. Geneva: Intergovernmental Panel on Climate Change, 2023.
ONU. Paris Agreement – Article 6 Mechanisms. New York: UNFCCC, 2023.
ABNT. ISO 14064-1:2018 – Gases de Efeito Estufa — Parte 1. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2018.
ABNT. ABNT PR 2030-1 ESG – Diretrizes de Governança e Sustentabilidade. Rio de Janeiro, 2024.
UNFCCC. Guidance on Cooperative Approaches – Article 6.2. Bonn: UNFCCC, 2024.
IEA – International Energy Agency. Net Zero Roadmap, 2023.
World Bank. State and Trends of Carbon Pricing, 2024.