As cidades brasileiras em sua mairoira surgiram a partir de pequenos núcleos situados às margens de corpos hídricos. Com o crescimento destes núcleos a ocupação urbana no Brasil tem em seu perfil grandes avenidas que acomodam a circulação de veículos e pedestres, e consequentemente habitações, indústrias e comércios que se estabecem nestas áreas.
Na atualidade vemos com frequência a resposta natural destes corpos hídricos, retomando um território que tecnicamente é leito de rios ou áreas de várzeas. Grandes perdas decorrentes destes fatores naturais fazem com que o caos urbano seja ampliado. Medidas paliativas são tomadas , sem que a real solução seja implantada. A natureza busca sua própria solução, e anualmente vemos as manchetes nos meios de comunicação a respeito de enchentes. Alguns países têm adotado medidas para recuperação de rios, devolvendo aos mesmos condições de retornarem a abrigar fauna e flora, cumprindo serviços ambientais importantes ao meio ambiente urbano.
Por outro lado vemos no Brasil algumas cidades ampliando vias de circulação, criando áreas impermeáveis nas margens de corpos hídricos que com certeza irão acarretar em um futuro próximo desequilíbrios ambientais locais, que por consequência irão recair sobre o ambiente urbano em questão. Cria-se uma solução de circulação urbana, porém as consequências serão imprevisiveis a médio e longo prazo.
Pois bem, se no passado as ocupações surgiram às margens de corpos hídricos e não havia minimamente condições de avaliação dos efeitos futuros, os quais já conhecemos com detalhes, diga-se de passagem que a questão do saneamento urbano em tempos remotos era a mera construção de latrinas que despejavam nos corpos hídricos os resíduos in natura, e isto era a melhor alternativa naquele momento. Hoje temos consciência de que o planejamento urbano feito com base nestas ocupações ultrapassadas e auto destrutivas levarão as cidades à ampliação do caos em um futuro próximo.
Considerando que as indústrias automobilísticas têm como meta a ampliação de vendas anualmente, não é preciso muito cálculo para se concluir que uma solução de mobilidade atual em menos de dez anos já terá perdido sua função, pois cada vez mais veículos irão circular e naturalmente as vias ampliadas não mais resolverão o problema.
Com base neste princípio o ideal é que se pense nas cidades como um organismo,os corpos hídricos como veias para o transporte de vida em abundância.
Novamente idealizando as cidades como organismos vivos, por que não pensar as cidades como corpos que necessitam de novos espaços para circulação? Uma reforma urbana em grandes centros pode representar a mudança de qualidade de vida de todos, inclusive favorecimento de acesso a áreas e circulação pode alavancar a economia em locais ondea mesma não esteja sendo favorecida no atual modelo.
Em primeira instância esta reforma deverá contemplar a devolução aos corpos hídricos de suas áreas de margens e várzeas, retirando a impermeabilização existente. Nestas áreas pode-se criar espaços públicos de lazer,mantendo a permeabilidade do solo. Tranferência de comércios , moradias e indústrias para regiões menos vulneráveis, onde possa se estabelecer uma rede de relações voltada ao intercâmbio local sempre que possível. Pensando deste modo, concentrar as relações de trabalho e trocas comerciais nestes núcleos. mecanismos de incentivo podem ser criados por governos locais,para que a medida seja bem vinda pela sociedade. Mesmo por que a maior parte das pessoas vítimas de enchentes já passaram por tantas perdas que possivelmente o entendimento desta proposta seja bastante viável. Acredito que muitas pessoas vítimas de enchentes mantêm-se nestes locais por ser sua única alternativa viável economicamente falando.
Bem, pensando após e durante o processo de reforma urbana, algumas questões em grandes centros tornam-se “ingerenciáveis”, como é o caso dos resíduos urbanos ( sólidos e líquidos). Esta referencia é relativa a todo o processo, coleta, transporte, destinação ( armazenagem ou reciclagem). O que ocorre é que a coleta de resíduos de modo geral é concentrada em serviços públicos ou terceirizados, sendo destinda a aterros ou similares. Normalmente os aterros sanitários são espaços urbanos localizados em periferias e principalmente, irão se esgotar (como é o caso de muitas cidades brasileiras que exportam seus resíduos para outros locais ainda com capacidade de recebimento, o que também é finito). Esta é uma questão fundamental para a gestão das cidades, o “calcanhar de aquiles” destes organismos.
Na proposta de reforma das Cidades, devemos pensar na regionalização do tratamente de resíduos. A cidade pode ser setorizada e a coleta restringir-se a estas áreas. Do mesmo modo o tratamento, reciclagem, deve ser realizado localmente e gerenciado por Empresas de Participação criadas localmente para esta finalidade. Estas empresas de participação podem e devem ser compostas por pessoas da comunidade e que além de gerenciar a questão dos resíduos urbanos, serão uma ferramenta social e irão gerar renda, facilitando o processo de empregabilidade local.
Para resíduos orgânicos , biodigestores devem ser instalados em terrenos ou áreas públicas, atendendo a pequenas regiões, evitando o depósito em áreas extensas como é realizado atualmente através de aterros sanitários. Reciclagem regionalizada e de preferência eliminação de aterros sanitários, pois já existe tecnologia de tratamento a plasma onde o produto final da reciclagem de resíduos sólidos é um material inerte que pode ser utilizado na construção civil. Concluindo, a palavra regionalizar é o sinônimo de gerenciável neste caso.
Este é um esboço a respeito do tema, em breve postarei mais detalhes sobre esta proposta.
Deise Nascimento