Na série de reportagens sobre um dos maiores problemas de injustiça social no Brasil – a falta de saneamento básico para grande parte da população – A Fundação Verde entrevistou com exclusividade o Pastor Inácio Lemke, vice presidente do Conselho Nacional das Igrejas (CONIC) para saber um pouco mais a respeito da escolha do tema desse ano para a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 (CFE). Com o tema “Casa Comum, nossa responsabilidade” e sob o lema bíblico “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca (Am5.24)”, o CONIC junto com a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) optaram por esse tema pelo saneamento ser um direito humano e uma infraestrutura essencial ao meio ambiente e à saúde das pessoas, em especial aos mais vulneráveis. Além de ser uma problemática com pouca visibilidade no Brasil.
Confira a entrevista completa.
Fundação Verde: O tema escolhido para ser o lema da Campanha da Fraternidade é um dos maiores problemas sociais que o Brasil enfrenta e está completamente relacionado à saúde. O que o CONIC espera alcançar em resultados com essa campanha?
Pastor Inácio: Há dois anos estamos trabalhando este Tema. Ele é sem dúvida um dos maiores desafios que a população brasileira vem enfrentando. Sobre tudo população mais pobre. Um dos objetivos nossos é levar as comunidades, indiferente de sua confessionalidade, a participar do processo de discussão sobre a responsabilidade de cada um com o planeta Terra. ‘Casa Comum’ requer responsabilidade de cada indivíduo, família, no conjunto da sociedade em que vive. Não podemos protelar por mais tempo a responsabilidade para outros, é preciso que despertemos para a responsabilidade. A ‘mãe terra’ não comporta por mais tempo a ganância exploratória que homens e mulheres lhe aplicam. Nesta Campanha da Fraternidade Ecumênica – CFE partimos para a discussão sobre a água, como bem comum, dádiva da natureza, que precisa ser preservada. Mas o foco principal é o saneamento básico, sejam eles afluentes líquidos ou dejetos sólidos. Queremos abrir olhos e ouvidos das pessoas, é hora de sair de discursos moralistas, a cerca de valores sustentáveis para a o planeta Terra, precisamos achar caminhos, e eles existem, para fazermos a recuperação do planeta.
Fundação Verde: Essa é a quarta vez que o CONIC protagoniza a CFE juntamente com a CNBB, o que os motivou a participar dessa Campanha?
Pastor Inácio: O CONIC quer unir e somar entre as Igrejas membros para abordar temas necessários e urgentes a serem tratados. Neste caso a CFE em 2016 está alcançado público em âmbito internacional. Contamos nesta Campanha também com a MISEREO, órgão ligada a Conferência dos Bispos Católicos Romanos da Alemanha. ‘Casa Comum – Nossa responsabilidade é um Tema socioambiental, econômico e religioso. Como Igrejas comprometidas com a vida, e vida de forma bem ampla, estamos motivados a levar esta discussão também para fora das comunidades cristãs. Alimentamos a esperança de discutirmos o assunto também junto aos órgãos públicos competentes. E o momento é propício, não temos tempo a perder. O CONIC sempre foi uma voz profética neste país e assim deve continuar. Não podemos nos calar ou nos submeter a desejos que proliferam a ‘morte’. Nosso mandato é ser voz no deserto, clamar e denunciar com a voz daquelas pessoas que normalmente não são ouvidas.
Fundação Verde: Quais outros temas estão listados nessa mesma Campanha?
Pastor Inácio: Bem, o tema principal é a água e o saneamento básico. Mas, não podemos discutir este tema, sem levar em consideração que para isso as pessoas precisam tem um espaço digno de viver, uma casa, lar, educação, saúde, alimentação saudável – alimentação sem agrotóxicos. Acreditamos que as comunidades irão descobrir mil maneiras de melhorar a vida e o contexto em que vivem. A Campanha deve manter o viés da Fraternidade – da Irmandade, com respeito à vida neste planta, pois outro não temos.
Fundação Verde: De acordo com a visão global do CONIC, de quais formas a população pode ajudar para que a CFE seja realmente um sucesso e comece uma mudança no acesso a água potável no país?
Pastor Inácio: Vejo nesta Campanha uma grande oportunidade de despertar a responsabilidade para o bem comunitário, para o bem comum. Água deve ser visto como algo de direito coletivo, não exclusivo para a comercialização e fonte de lucro. Se continuarmos a lidar com a água, como muitos estão acostumas a lidar, vamos colocar em risco a vida no planeta. Pois toda vida depende da água e ela também é um bem finito. Esperamos que esta Campanha ajude as comunidades novamente a despertar para mobilizações de interesse coletivo. Que as comunidades em suas reuniões apresentem propostas para melhorar a qualidade de vida. Esperamos que a Campanha seja transformada em ações concretas e de mudança de hábitos com responsabilidade com a vida.
Larissa Itaboraí