O professor e historiador da Unicamp, Luiz Marques, aponta diversos estudos e avaliações de cientistas e revistas consagradas que mostram a distância entre a fala dos governos e as ações efetivamente executadas para se chegar às reduções esperadas pelo Acordo de Paris.
Mês passado a revista científica Nature divulgou um artigo intitulado “Prove que Paris era mais que promessa de papel”, no qual mostra que, no que se refere ao cumprimento das promessas anunciadas pelos EUA, pela União Europeia e pelo Japão em 2015 com seus INDCs, esse primeiro passo não foi sequer ensaiado. Além disso, as implementações reportadas para atingir as metas dos INDCs não conduzem a elas e as políticas de fato adotadas projetam resultados bem aquém das implementações reportadas. Segundo os autores desse artigo, “até agora nenhum grande país industrialmente avançado está a caminho de cumprir suas promessas de controlar as emissões de GEE que causam as mudanças climáticas”. Em 2015, os EUA comprometeram-se a reduzir suas emissões de GEE em 26% a 28% em 2025 em relação ao nível de 2005. No entanto, segundo o estudo, o país estava a caminho de cortar provavelmente apenas 15% a 19% dessas emissões.
Em outra avaliação anterior a esse estudo e assinada por Christiana Figueres, personagem-chave do Acordo de Paris, e por Hans Joachim Schellnhuber, Gail Whiteman, Johan Rockström, Anthony Hobley e Stefan Rahmstorf, cinco entre os mais influentes cientistas da atualidade nas diversas áreas de pesquisa sobre as mudanças climáticas, afirmou-se que se a curva de redução das emissões de CO2 tivesse se iniciado em 2016, teríamos até 2050 para fazê-la cair a zero. Caso se iniciar em 2020, ela deverá cair a zero em 2040; e caso se inicie apenas em 2025, deverá zerar pouco antes de 2035. Essa avaliação foi intitulada Three years to safeguard our climate.
De acordo com o professor do Departamento de História do IFCH /Unicamp, Luiz Marques, que também é autor do livro ‘Capitalismo e Colapso Ambiental’, existe um negacionismo dos governos quanto à urgência na diminuição das emissões, e não só dos EUA, mas também do Brasil. Segundo Luiz, “o negacionismo climático está, por razões óbvias, mais vinculado aos interesses do agronegócio e, em particular, do desmatamento e da indústria da carne”. De acordo com Luiz, esse negacionismo em estado bruto “tem a vantagem de exprimir de modo límpido os interesses dos setores corporativos cujo lucro é indissociável de emissões de GEE, seja por queima de combustíveis fósseis, seja por emissões de metano biogênico ou ainda por desmatamento”.