De acordo com relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, só em 2016, o desmatamento no cerrado correspondeu a 11% das emissões brasileiras.
O número é alto: 248 milhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa foram emitidos para a atmosfera por consequência do desmatamento no Cerrado, isso apenas em 2016. É mais que o dobro do que o País emite por processos industriais e equivale a 11% de todo o carbono que o Brasil lançou no ar no mesmo ano. A constatação foi feita a partir da nova análise das emissões do setor de mudança do uso da terra, publicada na última quarta-feira (23) pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.
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Em 2016, ano mais recente para o qual há estimativas disponíveis, as emissões por desmatamento no segundo maior bioma do país corresponderam a 21% do 1,17 bilhão de toneladas brutas de CO2e (gás carbônico equivalente, a soma de todos os gases-estufa “traduzida” em toneladas de CO2) emitidas pela destruição de florestas. No total, as emissões de uso da terra (que englobam desmate, calagem de solos e queima de resíduos florestais) cresceram 23% em relação ao ano anterior, quando 949 milhões de toneladas de CO2e foram para a atmosfera.
O relatório incorpora dados do desmatamento no Cerrado divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em 2017, que englobam os anos de 2014 e 2015. Até o ano passado, só havia dados disponíveis até 2013. A atualização mostra que a savana do Brasil central, principal palco da expansão da fronteira agrícola, perde vegetação nativa cinco vezes mais rápido que a Amazônia.
As mudanças de uso da terra responderam, em 2016, por 51% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, que totalizaram 2,2 bilhões de toneladas. Em números absolutos, a grande fonte de preocupação continua sendo a Amazônia, que contribuiu com 52% (602 milhões de tCO2e) das emissões do setor em 2016 – 27% mais do que em 2015.
Ainda de acordo com o relatório, outro problema que só agora começa a ser mensurado é que grandes volumes de vegetação nativa do Cerrado estão queimando com mais facilidade mesmo sem ser alvo de desmatamento. Nos últimos quatro anos, os incêndios passaram a acontecer em uma frequência 87% maior do que em anos anteriores desde século.
De acordo com o Observatório do Clima, até agora os dados sobre emissões de queimadas são coletados em caráter exploratório e não constam no Inventário Nacional de Emissões, publicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e usado como referência para os cálculos do SEEG.
“O aumento da incidência indica não só uma mudança no regime natural de fogo da região mas também a necessidade de incluir esses incêndios na conta das emissões brasileiras dos gases que causam o aquecimento global”, disse Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam, coautora do relatório, juntamente com Amintas Brandão e Paulo Barreto, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), e Júlia Shimbo e Felipe Lenti, também do Ipam.
O relatório do setor de Mudança de Uso da Terra integra a série de cinco documentos de análise que todo ano são publicados alguns meses após o lançamento dos dados do SEEG. Nas próximas semanas serão lançadas as análises dos setores de Resíduos, Energia e Processos Industriais e Agropecuária, além de um documento-síntese com recomendações para a governança climática do Brasil.
Com informações do Observatório do Clima