Ganhador do Prêmio Jabuti 2016, o historiador Luiz Marques, escritor do livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”, traz um estudo sobre o capitalismo e mostra como o modelo econômico pode ser destruidor, levando o planeta a um quadro de devastação ambiental sem precedentes.
O professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Luiz Marques, foi o ganhador do Prêmio Jabuti 2016 com o livro “Capitalismo e Colpaso Ambiental”, no qual o acadêmico realizou um estudo sobre o modelo econômico adotado e a tragédia ambiental que o capitalismo está levando o planeta. De acordo com Luiz, para o capitalismo ser é preciso crescer e quanto mais dificuldade o capitalismo encontra para crescer, mais ambientalmente destrutivo ele se torna. Luiz ficou em primeiro lugar na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática.
Em entrevista concedida à TV Unesp, o professor Luiz Marques afirma que o livro tem como vetor principal a teoria de que “se nós nos mantivermos na rota da rede corporativa internacional, certamente entraremos num colapso ambiental”. Em seu livro, o historiador faz um alerta para as alterações antropogênicas que têm origem na atividade humana, basicamente na atividade econômica do capitalismo global. O livro gravita em torno de duas teses. A primeira de que o capitalismo é um sistema expansivo, no qual os detentores do controle, do fluxo de investimento, têm por finalidade fundamental aumentar o retorno do seu investimento. Ou seja, “se o capitalismo não se expande ele entra em crise”, afirma o professor. Desde meados do século XX, esse modelo vem se chocando com os limites do planeta. Segundo Luiz, o que chamamos hoje de pegadas ambientais do homem, ou seja, as marcas que o homem deixa na estrutura da biosfera é cada vez mais evidente e grave. A partir disso, claramente é percebido que a biosfera não tem mais condições de suportar esse vetor expansivo do capitalismo.
No estudo que baseia o livro, Luiz mostra que “o capitalismo global está extinguindo ou ameaçando existencialmente um número crescente de espécies, entre as quais, e não por último, a nossa”. Segundo o professor, apesar do estudo tratar de questões complexas, algumas certezas são evidentes, como a degradação das coordenadas ambientais do ponto de vista do desmatamento, das mudanças climáticas, dos recursos hídricos, da degradação dos solos, ou seja, de forma geral há uma degradação geral e acelerada do planeta.
“O agravamento da crise vem vindo num ritmo superior à nossa capacidade de reagir a ele”, afirma Luiz. As comunidades crescem aceleradamente e para freiar o ritmo de degradação teríamos que mudar hábitos globais de consumo e produção. No entanto, de acordo com o professor, até agora não caminhamos quase nada. De acordo com o historiador e autor do livro, o que definiria a atualidade “é o fato que estamos em uma corrida contra o relógio em que nós estamos perdendo. Ou tomamos consciência de que é preciso reestruturar quais são os vetores fundamentais da atividade econômica ou teremos um futuro muito pior do que a economia que temos até agora”.
Para começar a solucionar essa degradação ambiental, Luiz propõe que a sociedade deveria ter o controle do fluxo de investimento, baseado num aprofundamento da democracia. “A sociedade não detém o controle do fluxo de investimento e, portanto, a sociedade em si não tem o poder de decidir quanto de investimento irá para uso de energias renováveis ou quanto vai para o uso de petróleo”, explica. De acordo com Luiz, seria necessário que houvesse um aprofundamento da democracia para a sociedade ter o poder de decidir o que fazer com os recursos. O professor afirma ainda que a base da sociedade foi formada baseando-se no pensamento de que quanto mais excedentes fôssemos capazes de produzir, mais seguros quanto a desastres ou qualquer advendos estaríamos. “É exatamente esse pensamento que também deve ser quebrado”. No entanto, Luiz afirma que a partir do segundo pós guerra, em volta de 1945, com a expansão do capitalismo percebemos que quanto mais excedentes geramos, mais inseguros nós nos tornamos.
Como criar uma sociedade em que a redistribuição do excedente seja mais democrática? De acordo com Luiz, os partidos de esquerda poderiam incorporar a questão do uso de energias limpas à sua plataforma de lutas, no seu ideário. De acordo com ele, para freiar esse colapso ambiental é preciso que haja cobrança no uso de combustíveis fósseis, no entanto, Luiz afirma que os países não só não estão cobrando por esse uso, como estão subsidiando os combustíveis fósseis para sustentar os lucros das grandes empresas de petróleo. Luiz traz a alarmante informação de que hoje, consumimos de 92 a 94 milhões de barris de petróleo por dia, ou seja, “estamos imersos no uso de combustíveis fósseis”. Para o professor, é preciso produzir e consumir menos energia. Para isso, Luiz propõe que haja uma remodelação da ideia de quanto é necessário para uma sociedade civilizada continuar sua civilização consumindo menos energia.
De acordo com o historiador e ganhador do Prêmio Jabuti 2016, a premissa básica para chegar em um novo caminho de crescimento é mudar de rota desmontando a estrutura do capitalismo global. “O arroz e o feijão que comemos não pode estar taxado ou avaliado na Bolsa de Valores de Chicago, temos que pensar que nossa matriz energética não pode ser baseada no uso de combustíveiss fósseis, temos que entender que o desmatamento é absolutamente nocivo e o principal fator de desequilíbrio das estruturas climáticas, ou seja, temos que fazer um desmatamento zero”, avalia Luiz Marques. “Nós dependemos da teia da vida e se não formos capazes de caber dentro da estrutura da biosfera sem desestruturá-la não há sociedade nem tecnologia que vai nos tirar da rota do colpaso ambiental”.
Jabuti – O Prêmio Jabuti é a mais tradicional, importante e consagrada premiação do livro no Brasil. Além de valorizar escritores, o prêmio destaca a qualidade do trabalho de todas as áreas envolvidas na criação e produção de um livro. Em 2016, o Jabuti contemplou 27 categorias.
Larissa Itaboraí