Interessada em saber mais sobre os benefícios da instalação de telhados verdes nos centros urbanos, a equipe da Fundação Verde Herbert Daniel entrevistou a arquiteta e urbanista Adriane Cordoni Savi. especialista em construções sustentáveis e mestranda da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Adriane tem estudado a temática de telhados verdes como alternativa inteligente e benéfica para o meio ambiente e para as mudanças climáticas sentidas nas grandes cidades.
FVHD – Em que contexto surgiu a ideia de implantação do telhado verde?
Adriane Cordoni Savi: Apesar de ser uma tecnologia extremamente atual, o uso de telhados verdes remota há vários séculos, tanto em regiões de temperaturas baixas como em regiões quentes. As referências históricas mais antigas e significativas de telhado verde são do período de 4000 a 600 a.C. e podemos destacar como uma das principais referências os Jardins Suspensos da Babilônia.
FVHD – Por que o mercado brasileiro tem despertado interesse nesse tipo de cobertura vegetal?
Adriane – Os telhados verdes representam uma estratégia inteligente para fomentar a sustentabilidade nas edificações, pois garantem eficiência da edificação e impactam na redução dos efeitos das mudanças climáticas sentido nas cidades.
Países europeus, principalmente a Alemanha, já vêm desenvolvendo tecnologia e aplicando há muitos anos. Desde a década de 70 existem leis que incentivam a aplicação de telhados verdes nas edificações.
No Brasil, iniciamos a aplicação dessa tecnologia a partir do período arquitetônico conhecido como modernismo. O modernismo trazia como premissa a aplicação de terraços jardins em sua cobertura. Um dos principais exemplares desse período é o palácio do Capanema no Rio de Janeiro.
Nos últimos anos tem-se discutido muito a importância da sustentabilidade nas construções. E o telhado verde contribui de forma muito positiva para a redução dos impactos da edificação. No Brasil, aumentou também os estudos sobre essa tecnologia, que demonstram os benefícios desse tipo de cobertura. Desta forma o mercado está se abrindo a essa tecnologia, que tem cada dia se tornado mais acessível e comum.
FVHD – Quais são as vantagens com relação a um telhado comum para o telhado verde?
Adriane – Os telhados verdes possuem vários benefícios tanto para a edificação e seus habitantes, quanto para o meio ambiente.
Os telhados vivos têm a capacidade de redução das ilhas de calor, ou seja, com o emprego de vegetação nas coberturas nas edificações pode-se reduzir a temperatura especialmente nos centros urbanos.
Os telhados verdes proporcionam estabilidade na temperatura interna do ar durante o dia e a noite, ou seja, auxilia no conforto térmico da edificação. Estudos comparativos com outras coberturas demonstram que uma cobertura convencional pode variar até 60ºC ao longo de um dia, enquanto a cobertura verde na mesma situação varia em torno de 7ºC. Além dos benefícios do conforto término, essa menor variação da temperatura auxilia na vida útil da cobertura e da impermeabilização da mesma.
Outra vantagem dos telhados verdes é a retenção de água da chuva, que contribui para a redução das enchentes, um grande problema nas cidades. A cobertura verde retém até 70% da água da chuva.
As vegetações possuem ainda a capacidade de retenção das impurezas da água e do ar, proporcionando um aumento na qualidade desses.
O telhado verde cria uma massa térmica e mantém a temperatura mais constante ao longo do ano, quando comparada com outros tipos de cobertura. Estudos demonstram que um telhado verde pode gerar um atraso térmico de até 4 horas, ou seja, é o tempo que demora o calor externo para penetrar no ambiente. Desta forma, ao meio dia com temperatura do ar externa de 32ºC, a temperatura em uma edificação com cobertura verde fica em torno de 22ºC, uma diferença de 10ºC. Nessas mesmas condições a temperatura superficial de uma telha cerâmica chega a 51ºC e do telhado verde fica em torno de 24ºC.
FVHD – Como é feita a implantação dos telhados verdes? Qualquer construção abriga bem essa alternativa?
Adriane – Para implantação de uma cobertura deve-se ter alguns cuidados especiais, principalmente quanto a impermeabilização da superfície, que garantirá a vida útil da sua cobertura, e a composição do substrato, para que você possa ter um substrato leve, mas com capacidade de retenção de água.
Os telhados verdes do tipo extensivo (ou sistema leve), têm seu peso equiparado a um sistema de telha cerâmica ou telha de concreto, ou seja, na maioria das edificações é possível fazer a substituição de uma cobertura convencional por um telhado verde, entretanto, se é uma edificação existente é importante fazer uma análise estrutural da edificação.
Se for concebida a aplicação do telhado verde desde a etapa de projeto toda edificação poderá receber esse tipo de cobertura.
FVHD – Quais são os custos, em média, para a colocação e manejo/manutenção da área?
Adriane – O custo do telhado verde pode variar muito em função da tipologia escolhida. O sistema mais utilizado, o extensivo, sistema com plantas de pequeno porte e uma fina camada de substrato, tem seu custo a partir de R$180,00/m² incluindo o sistema de drenagem, substrato e vegetação.
A Manutenção é a mesma de um jardim convencional. Dependendo do tipo de planta escolhida a manutenção pode ser reduzida ainda mais, em geral são escolhidas plantas que não necessitem de regas constantes ao longo do ano, com o objetivo de reduzir essa manutenção.
FVHD – A senhora poderia nos citar exemplos de telhados verdes em torno do Brasil, tanto em prédios públicos quanto em shoppings ou edifícios comerciais?
Adriane – Existem várias edificações que possuem telhados verdes. Podemos destacar o Edifício Conde Matarazzo, atual sede da prefeitura de São Paulo. O Palácio Capanema no Rio de Janeiro, sede dos ministérios da Cultura e da Educação. E, recentemente, foi implantado um telhado verde no Village Mall, extensão do Barra Shopping no Rio de Janeiro.
FVHD – Ouvindo um radialista paulistano que tem seu estúdio no centro de São Paulo, soubemos que, apesar de chover bastante em diversas áreas da cidade nos últimos dias, no centro da capital a chuva não chega até o chão. Há uma evaporação da chuva antes mesmo dela chegar no chão/asfalto? Os telhados verdes podem auxiliar nesse aspecto?
Adriane – A incidência de radiação solar sobre as coberturas, principalmente as de coloração escura fazem com que se absorva essa energia e libere-a lentamente à noite, como consequência, temos temperaturas muito elevadas em torno das edificações, essa característica dos centros urbanos contribuem para que aconteça esse fenômeno.
Os telhados verdes podem reduzir essas ilhas de calor, pois reduzem a temperatura superficial das coberturas, além disso deixam o clima mais úmido no entorno da edificação, devido ao resfriamento evaporativo causado pela evapotranspiração das plantas.
Desta forma acredito que, se no centro urbano, uma grande porcentagem das coberturas forem substituídas por telhados verdes teríamos sim uma redução desse fenômeno, mas não tenho nenhum dado específico quanto a isso.
Foto: Tellus Arquitetura e Sustentabilidade