O nordestino tem isso, arregaçar a manga e ir lá”, declara médico e ambientalista do PV, que está preocupado com a saúde das pessoas, pois muitas não têm equipamento de proteção individual.
Enquanto o governo não toma atitudes para resolver o problema do óleo nas praias do Nordeste, são os nordestinos que têm sido os heróis dessa triste história. Eles arregaçaram as mangas e foram ao trabalho. Infelizmente, muitos têm passado mal, pois faltam equipamentos de segurança.
Em Salvador, segundo o secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis), André Moreira Fraga, do Partido Verde (PV), estão conseguindo dar uma resposta rápida, por força do governo municipal – por meio da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), entre outros órgãos – e, também, em virtude do trabalho de uma grande quantidade de voluntários. “Outros municípios têm tido muita ajuda da população, pois muitos desses municípios não têm condições de resolver o problema”, esclarece.
O secretário explica que já foram retiradas 90 toneladas de material em 15 praias. “Em Salvador, a situação está controlada, já estamos na limpeza final de pedras e areia”, informou.
Já em Pernambuco, a situação é bem mais grave, mas lá também é a população que está com a mão na massa. De acordo com o ambientalista e médico Gustavo Carvalho Rosas, do PV no estado, integrante do Greenpeace e diretor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente Igualdade e Solidariedade (Ibmais), “o governo federal não está ajudando em absolutamente nada. O estadual também não. Algumas prefeituras como as de Ipojuca, Tamandaré, Cabo de Santo Agostinho cederam o material (equipamento de proteção individual – EPI), mas é muita gente ajudando, a população”.
Saúde dos voluntários –Gustavo está preocupado com a saúde da população. Ele conta que está em Ipojuca, Porto de Galinhas, e que lhe pediram para ajudar também em Jaboatão, pois havia pessoas passando mal, por terem coletado óleo sem as devidas proteções. “Isso é preocupante. Todo mundo com muita boa vontade, a sociedade civil daqui, a Igreja Católica dando um suporte muito grande, algumas igrejas protestantes também, várias associações de pescadores”, acrescenta.
Um dos exemplos citados por Gustavo é o do padre Arlindo, da Praia dos Carneiros, em Tamandaré, que lançou o lema “O que vier a gente limpa”. O padre vestiu mesmo a camisa ambientalista e tem dado um grande apoio por lá. “O nordestino tem isso, arregaçar a manga e ir lá”, elogia Gustavo, para quem o país está assistindo “ao maior desastre ambiental do litoral do Estado de Pernambuco. É muita destruição para um Nordeste que já vem tão maltratado pelos governos e um povo tão sofrido e carente”.
E os números não param de subir. Segundo o site de notícias G1, até o último dia 22, já tinham sido recolhidas “489 toneladas de óleo [óleo e material orgânico e inorgânico] nas praias do litoral pernambucano”. Porém, segundo Gustavo, o suporte que o governo deu até agora foi apenas pegar esse petróleo e levar para ser usado por indústrias como a de cimento, em Pernambuco.
Falta de apoio técnico – Ainda segundo Gustavo, uma das principais preocupações do Greenpeace, por exemplo, é a falta de técnicos especializados: “A simples coleta do petróleo é preocupante, porque, primeiro, como vai coletar, como vai separar a flora e a fauna desse petróleo; segundo, onde vai colocar”.
Ele explica que a coleta também traz danos para a biodiversidade marinha: “A gente pode estar causando um desastre tão ruim quanto o provocado pelo óleo. Há técnicas para retirar e é essa a posição do Greenpeace nacional em relação ao atual governo do Bolsonaro, que não faz nenhum movimento, não ajuda em nada em relação à contratação de técnicos”. E a resposta que só virá com o tempo: “A gente não sabe qual o impacto disso no pulmão verde [dos oceanos]”.
Em Pernambuco, o PV emitiu uma nota de repúdio e indignação em relação ao descaso do governo. O partido tem feito parte do movimento de ir às praias, se unindo a outros grupos e se engajando para fazer as limpezas. Também em nota, foi cobrada uma posição do governo Bolsonaro e do governador de Pernambuco, Paulo Câmara. “Até hoje, o governador não deu uma posição oficial e nem viabilizou o processo técnico. Em todo o Nordeste, só tem 1,2 mil técnicos”, contabilizou e citou a professora de Gestão e Impacto Ambiental da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),Soraya El-Deir, que tem contribuído muito com pesquisas e levantamentos. O comércio também tem ajudado com a doação de material, principalmente de EPI.
Por fim, Gustavo deixa um apelo para que os outros estados também se engajem nessa campanha, mandando técnicos e material técnico: “Toda mão é bem-vinda, desde que protegida”.
Pelas praias e no Congresso – Em artigo publicado no Estadão no último dia 18, o escritor Fernando Gabeira, enfatiza: “Tudo isso se passa com relativo desinteresse nacional. Deputados e senadores foram ao Vaticano e deram as costas para as praias manchadas. O próprio Bolsonaro acusou esquerda, ONU e ONGs de ocultarem o desastre por a origem do óleo ser a Venezuela. Além de denunciar a esquerda, Bolsonaro pouco fez. Em Sergipe foi preciso uma determinação judicial para que protegessem a foz dos Rios São Francisco, Sergipe, Vaza Barris e Real, entre outros”.
O deputado federal Célio Studart (PV-CE) apresentou, na quarta-feira (23/10), uma Proposta de Fiscalização e Controle (PFC)a respeito do derramamento de petróleo no litoral do Nordeste. Apresentada no âmbito da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS), a PFC visa a uma atuação mais eficiente e à busca por informações concretas.
No último dia 2, o vice-líder do PV já havia protocolado requerimento de informação aos ministérios do Meio Ambiente e da Defesa solicitando, entre outros dados, laudos técnicos, laboratoriais e investigativos sobre o material recolhido e os possíveis causadores do derramamento de petróleo, além dos custos financeiro e humano para recuperar toda a área afetada.