Por que elas são mais afetadas?
A crise climática afeta todos nós, mas não igualmente. Devido a diversas vulnerabilidades e desigualdades, as mulheres são mais afetadas do que os homens.
Elas estão mais expostas aos riscos decorrentes de eventos meteorológicos extremos, porque têm menos acesso a recursos e proteção social.
Para a engenheira ambiental Isvilaine da Silva Conceição, “mulheres e meninas são as mais afetadas pela crise climática porque cabe a elas carregar os fardos das desigualdades econômicas e sociais”.
De acordo com ela, a criticidade e o grau de impacto dos eventos climáticos para meninas e mulheres também depende da região em que elas vivem.
“Hoje, olhando para o estado de São Paulo, o que é crítico para elas é o aumento do volume de chuvas e os deslizamentos de terra. Já para mulheres que vivem da agricultura, a seca é o evento climático que mais assola a vida.”
Em uma pesquisa publicada em 2007, os economistas Eric Neumayer e Thomas Plümper analisaram a vulnerabilidade de meninas e mulheres em relação à mortalidade por desastres naturais e suas consequências. Os dados são de 141 países e foram obtidos entre 1981 e 2002.
Os resultados mostraram que os desastres naturais reduzem mais a expectativa de vida das mulheres do que a dos homens, as grandes calamidades causam maior impacto na expectativa de vida feminina em relação a masculina do que as menos severas.
O estudo também apontou que o impacto dos desastres na expectativa de vida feminina diminui para mulheres de status socioeconômico mais alto.
Isso quer dizer que a vulnerabilidade social das mulheres aliada à vulnerabilidade socioeconômica leva a taxas mais altas de mortalidade feminina em comparação com a masculina.
Vulnerabilidades intensificadas
De acordo com a ONU Mulheres, nos desastres, os ferimentos e os óbitos são maiores entre elas. As desigualdades de acesso à informação, mobilidade, recursos e treinamento para situações de risco são fatores que diminuem as chances de assistência, subsistência e recuperação.
Nessas situações, geralmente elas assumem a responsabilidade de garantir água e comida, por isso estão mais suscetíveis ao cansaço, a abusos e exploração, ao abandono dos estudos e a maior pressão pela sobrevivência da família.
A agricultura é um dos setores que mais emprega mulheres nos países de baixa e média rendas – entre 50% e 80% da força de trabalho. Entretanto, nem 10% das terras são de propriedade delas.
Essa desproporção prejudica o acesso delas a meios e recursos necessários para se prevenir ou se recuperar em casos de desastres naturais. Assim, em um cenário de evento climático extremo, que prejudica bastante esse setor, as agricultoras (e suas famílias) acabam sendo lançadas ao desemprego e a condições muito precarizadas de sobrevivência.
Ainda de acordo com a ONU Mulheres, em algumas regiões, as mudanças climáticas intensificam os conflitos políticos, econômicos e sociais. Consequentemente, nessas situações, aumentam as vulnerabilidades de mulheres e meninas (casamento infantil, abusos de toda ordem, violência sexual, tráfico humano e outras).
Isvilaine da Silva Conceição, que assessora o Observatório do Clima na parte de engajamento e mobilização, afirma que boa parte das famílias pobres do planeta é chefiada por mulheres – 40% dos lares de acordo com a ONU Mulheres.
Cerca de 1,3 bilhão de pessoas sobrevivem em condições de pobreza no mundo – 70% delas são mulheres. Isso, por si só, acarreta uma sobrecarga de responsabilidades – trabalho, família, casa, alimentação.
Isvilaine da Silva Conceição/Crédito: Laryssa Gaynett.
“São as mulheres que param de estudar quando falta água, porque vira trabalho doméstico delas caminhar para providenciar água para casa.”
Isvilaine da Silva Conceição
Mais vulneráveis entre as vulneráveis
Apesar de as mulheres sofrerem mais com os impactos das mudanças climáticas, eles não se distribuem de forma heterogênea para todas elas. Isvilaine chama a atenção para a dilatação desses efeitos quando se considera o recorte de raça/etnia, por exemplo.
Assim, diante de desastres, os riscos são ampliados e a propensão ao aumento das vulnerabilidades é multiplicada para mulheres e meninas indígenas e negras.
A invisibilidade social cotidiana dessas mulheres associada a situações climáticas extremas levam a um grave e preocupante quadro em que as necessidades delas estão em último plano ou são completamente desconsideradas.
Então, os impactos das mudanças climáticas acabam ampliando as vulnerabilidades, as desigualdades e as ameaças à saúde, à segurança e à subsistência feminina.
Caroline Cardoso – Comunicação FVHD
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Fonte: ONU Mulheres