O vice-presidente Michel Temer disse que a crise política tem por base o presidencialismo de coalização. Concordamos com ele. É impossível que esse sistema presidencialista sustente-se, ainda mais com reeleição, com os partidos grandes inventando partidos de aluguel e com as empresas financiando a farra com dinheiro público. Não se sustenta mesmo.
Eles, os grandes partidos que inventaram esse modelo político e se deram bem, chegando ao topo da cadeia política do país, não aceitam mudanças democráticas. Querem ganhar no tapetão, na cartolagem, no apito, sem jogar o verdadeiro jogo das urnas livres.
Tudo o que eles fazem e chamam de reforma política tem apenas um único objetivo: mantê-los na série A do campeonato político. E fazem isso sem levar em conta o torcedor, verdadeiros apaixonados pelo Brasil, time do coração nacional. Agem como cartolas da política. Se um time grande está perdendo, eles inventam pênalti, aumentam o tempo dos descontos, tiram a bola de campo e até mudam a tabela do campeonato no meio do jogo.
Concordamos que a crise política vem do presidencialismo de coalizão, mas nossos remédios são diferentes. Michel Temer quer diminuir o número de partidos e ataca os pequenos partidos. Nós queremos o parlamentarismo.
Os partidos nascem no Brasil de dois jeitos, uns nascem pelo método natural, nos campos de peladas das várzeas, são moleques que se alimentam de luz, jogam porque gostam, dos pés deles nascem os belos dribles e o futebol arte, são porta-vozes das paixões nacionais e são legítimos. Outros nascem de provetas, nos laboratórios escusos, oriundos de clones transgênicos, das academias chiques, das quadras sintéticas do futebol soçaite, mantidos pelos grandes partidos e são ilegítimos.
Ao propor solucionar a crise reduzindo os partidos, atacando os pequenos, como se deles fosse a culpa da crise, como se matasse os clones transgênicos e deles não se sentirá falta. Mas mata-se também os bons filhos da sociedade e estes farão falta para a mãe democracia, que chorará a perda por muitos e muitos tempos. A verdadeira política perderá feio no campeonato da vida e a crise continuará fazendo gols.
Os grandes partidos, após o extermínio dos pequenos, ganharão fôlego, seguirão produzindo novos partidos clones, até a próxima crise do presidencialismo.
Na democracia, como no futebol, a solução está na liberdade de jogar. O eleitor tem que ser livre para escolher, sem amarras, sem interferência do poder econômico, sem que os caciques decidam antes e entregue o prato feito, sem a influência nefasta do poder econômico. O povo deve ter o direito de ir as urnas e manifestar sua vontade.
O nosso sistema político precisa mudar profundamente. Aqui são os cartolas que escalam os jogadores, os técnicos dizem como devem jogar, as tabelas são feitas para favorecer os grandes, as tevês interferem escalando os clássicos. Quem perde é o futebol, mas é o torcedor que paga os ingressos e não apita nada.
A verdadeira solução da crise política, senão a melhor solução, está na democratização do sistema partidário, com o fim do financiamento de campanha por empresa e na adoção do parlamentarismo. O parlamentarismo é um sistema político capaz de salvaguardar o estado dos solavancos do governo e das tempestades da política. Também é o parlamentarismo que atribui responsabilidades ao parlamento, abreviando os mandatos dos políticos irresponsáveis. É o único que permite que se mude um governo com baixa popularidade sem agravar e nem colocar em cheque o estado democrático de direito.
Quem muda o futebol e o Brasil são os torcedores e os eleitores, mas apenas no dia que decidirem participar do jogo.
José Carlos Lima