A última parada de antigos vagões de trens nova-iorquinos, chamados de Redbirds, que foram utilizados no metrô por 40 anos, é o oceano Atlântico, 30 km mar adentro.
O Departamento de Trânsito da cidade escolheu o fundo do mar como forma de descartar os vagões para que eles virassem recifes artificiais.
O objetivo é simples: além de atrair turistas, tais recifes fazem com que os mergulhadores deixem de frequentar os corais naturais, muito sensíveis à presença humana.
Os trens foram ao mar ao longo da última década. O processo atraiu o fotógrafo Stephen Mallon, cujas imagens dos afundamentos estão em exposição em Manhattan entre esta sexta-feira (6) e 8 de março, na Galeria Kimmel da Universidade de Nova York.
“Enquanto fotografava, eu só pensava ‘meu Deus, que imagens’ entre os cliques”, disse o fotógrafo à Folha.
A iniciativa americana não é a única. No Brasil, a Associação MarBrasil, que reúne pesquisadores da área biológica, tem nos últimos anos jogado blocos de concreto ao mar no Paraná para fazer recifes artificiais. Entre março e abril, a entidade pretende lançar 1.500 novas unidades –o Ibama, que tem de ser consultado para que isso seja feito, já aprovou o projeto.
Nesse caso, o objetivo é mais científico: deseja-se entender como ocorre a colonização, primeiro por microalgas e bactérias que se incrustam nos blocos, depois por peixes em busca de alimentos.
O que está ficando cada vez mais claro para os cientistas é como a vida toma com facilidade as estruturas para si. Eles estimam que em dois anos o ecossistema se estabelece inteiramente, e depois de escolhido o lugar adequado não é preciso fazer nada além de deixar a natureza trabalhar.
Além de outras iniciativas com concreto no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, o Brasil também já afundou navios, como o rebocador Walsa, em 2009, em Recife, e o cargueiro grego Victory 8B, com 89 metros de comprimento, submerso desde 2003 no Espírito Santo. Ambos servem à pesquisa e ao turismo.
Para afundar vagões ou navios, é preciso retirar pneus, janelas, fios, baterias, resíduos de combustível e tinta. Fica só a estrutura metálica.
Frederico Brandini, professor titular do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e ex-presidente da MarBrasil, conta que a biodiversidade em um recife artificial é alta. “Existe muita complexidade no ambiente. São muitas tocas, buraquinhos. Vários organismos conseguem se fixar ali e isso atrai peixes. É um verdadeiro jardim.”
Além disso, o local tende a ser uma área protegida, em função da estrutura do objeto afundado –ficando por lá, peixes não são atingidos pela pesca de arrasto, por exemplo, e conseguem se esconder de predadores maiores.
No Paraná, já estão sendo vistas espécies de peixes, como neros e garoupas, que antes não habitavam nem corais naturais. O IO-USP pretende reproduzir a experiência no litoral norte de São Paulo.
Há quem seja mais criativo na hora de criar recifes. Os búlgaros, por exemplo, jogaram ao mar um avião em 2011.
O Tupolev-154, fabricado na União Soviética e parecido com um Boeing 727, pertencia ao ditador comunista Todor Zhivkov e foi utilizado, entre outros, por Fidel Castro. O avião, agora com frequentadores bem mais inofensivos, repousa hoje entre peixes a 700 metros da costa de Varna, onde virou ponto turístico.
Já os tailandeses preferiram mandar, em 2010, 25 tanques de guerra desativados (e inúteis) para o fundo do oceano, pois estavam preocupados com a redução no número de peixes na região.