Estudo inédito mostra que nos últimos 16 anos foram desmatados 20% dos manguezais brasileiros e 13% do pantanal. Um dos maiores problemas nesses dados é que a disponibilidade do uso da água está completamente relacionada à preservação dos biomas, que caminham para o fim.
O cenário evolutivo da ocupação do territótio brasileiro não é nada otimista. Um estudo inédito sobre os biomas brasileiros traz dados preocupantes do aumento da devastação desses ambientes. De 2000 a 2016, o cerrado, por exemplo, perdeu uma área proporcionalmente três vezes mais elevada que a da Amazônia. Segundo Ane Alencar, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que coordena a equipe responsável pelo cerrado no MapBiomas, o desmatamento verificado nas áreas florestais do cerrado também pode impactar o abastecimento de água. “O papel das florestas no Cerrado é resguardar os mananciais, já que todas as principais bacias do país têm nascentes no bioma. O desmatamento nessas florestas tem impacto direto na segurança hídrica”, alertou.
O Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas) foi lançado em abril desse ano e traz dados e imagens inéditas medidas de 2000 a 2016. O estudo é uma iniciativa do Observatório do Clima (OC) com a colaboração de 18 instituições, entre universidades, ONGs e empresas de tecnologia. A compilação de informações traz uma contribuição gigantesca e deve inspirar as autoridades a agirem à respeito.
Segundo o MapBiomas, entre os anos 2000 e 2016 o Brasil perdeu 190 mil quilometros quadrados de área verde em todos os seus biomas. Só nos manguezais foi avaliada uma perda de 20% da área total, 1/5 das franjas verdes de manguezal, principalmente na região nordeste. Segundo os pesquisadores, o mangue é um ecossistema insubstituível por servir de berçário a espécies de peixes, crustáceos e moluscos que mantêm a economia de várias regiões brasileiras. Além disso, onde há manguezal e não há esgoto coletado e tratado, o mangue consegue reciclar os nutrientes e absorver parte da matéria orgânica, de acordo com pesquisadores.
No período observado, a maior planície alagável do mundo perdeu 14 mil quilômetros quadrados, com a vegetação natural caindo de 86% para 73%. O Pantanal era um dos biomas mais preservados por ter grandes extensões de pastagens naturais, onde o gado convivia com a vegetação nativa. Neste século, porém, foi intensificada a derrubada de áreas de mata, as chamadas “cordilheiras”, para a plantação de pastagens e intensificação da pecuária.
O ritmo de distruição dos biomas é acelerado. Segundo o mapeamento, a Amazônia perdeu uma área equivalente ao Uruguai, cerca de 170 mil quilometros quadrados e quase tudo para a criação de gado. É a dissipação do capital natural com a desculpa do desenvolvimento baseado na exploração da madeira, produção de pasto para gado, entre outras atividades. A nova série de mapas permitirá pela primeira vez acompanhar a evolução da ocupação do território em todos os biomas brasileiros ao mesmo tempo. Até hoje essa informação só estava disponível para a Amazônia e Mata Atlântica e, de dois em dois anos, para o Pantanal. O estudo permitirá ainda calcular com maior precisão as emissões de gases de efeito estufa dele resultantes e também possibilitará saber quanta floresta está se regenerando no Brasil, informação crucial para monitorar o cumprimento das metas nacionais no acordo do clima de Paris.
Luz no fim do túnel – Na direção contrária dessa destruição ambiental, a mata atlântica registrou um acréscimo de área verde equivalente a uma Bélgica, dois mil hectares entre os anos de 2000 a 2016. O Estado campeão de regeneração foi o Paraná que ganhou cinco mil quilômetros quadrados de mata, principalmente por recuperação de áreas de preservação permanente, como margens de rios. Mas, o estado que mais ganhou em relação à área total foi o Rio de Janeiro: 17,8% de florestas a mais em 2015 em comparação com 2001 (um crescimento de 10 mil para 12 mil quilômetros quadrados).
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