Entenda os dados alarmantes sobre a extinção da Renca e a iminente escassez de água no Distrito Federal causada pela destruição do Cerrado.
Em artigo publicado no site da Universidade de Campinas, o historiador e professor da Unicamp, Luiz Marques, avalia a situação da Amazônia com a assinatura do decreto que extingui a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca) na Amazônia, com uma área de 46.450 km², maior que a do estado do Rio de Janeiro. De acordo com o professor, o decreto assinado pelo presidente Michel Temer no último 22 de agosto, simboliza “mais um passo para a inviabilização da vida na Terra”.
Segundo o artigo, a área está situada na divisa entre Pará e Amapá e a região abrange o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, o maior parque de florestas tropicais do mundo, além de outras florestas, quatro reservas ecológicas e duas reservas indígenas, uma delas a da comunidade Wajãpi, contatada apenas em 1973. De acordo com Luiz, o decreto abre a possibilidade de licenciamentos para projetos de mineração na região, considerada rica em ouro, cobre, ferro, níquel, manganês e tântalo, um elemento empregado em equipamentos eletrônicos, bastante raro na crosta terrestre (1 a 2 ppm) e com expectativa de esgotamento nos próximos 50 anos.
Para o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Victor Hugo Froner Bicca, o decreto de Temer “é um ataque frontal aos povos indígenas, à segurança de todos os brasileiros, à biosfera e ao sistema climático planetário, dos quais dependemos existencialmente como sociedade e como espécie”.
O decreto é parte do Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira, lançado em 25 de julho, que inclui a alteração de 23 pontos no Código de Mineração, “com a finalidade de destravar e estimular a atividade mineradora”, nas palavras do site do Ministério das Minas e Energia. No entanto, Luiz denuncia que já em março, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, havia anunciado, em Toronto, às mineradoras canadenses, o fim da Renca como reserva mineral num evento intitulado Prospectors and Developers Association of Canada (PDAC).
Cerrado: o berço das águas – Não é à toa que o Cerrado é chamado de o grande distribuidor dos recursos hídricos para grande parte do território nacional. Ainda em seu artigo o professor mostra o estresse hídrico que o Cerrado tem passado e as consequências serão catastróficas, como afirma Luiz. “Nesse bioma encontram-se três grandes aquíferos (Guarani, Bambuí e Urucuia) e nele nascem três grandes bacias hidrográficas (Tocantins-Araguaia, Paraná-Prata e São Francisco), dos quais dependemos crucialmente, e não menos que milhares de outras espécies”, afirma o professor. Tiago Reis, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), afirma que a perda de vegetação nativa do Cerrado compromete a formação de chuvas por evapotranspiração e a infiltração das águas no solo para recarregar aquíferos e rios da região. Uma das primeiras consequências, mas certamente não a última, da destruição do Cerrado é o racionamento de água no Distrito Federal, imposto desde finais de 2016 e sem data para acabar.
Leitura Complementar: Artigo do Prof. Luiz Marques