Mandioca, goiaba e até casca de banana ou laranja. As possibilidades de produzir o chamado biofilmes (filmes finos elaborados a partir de materiais biológicos) parecem ilimitadas. No Norte do país, a engenheira agrônoma Ana Cecília Nina Lobato apostou no cará (Dioscorea trifida) e ganhou destaque nacional. Seu objetivo é criar um material para acondicionar alimentos que seja alternativo ao tradicional plástico derivado de petróleo.
Como parte de sua dissertação de mestrado, Ana Cecília desenvolveu um biofilme a partir da fécula do cará, tubérculo abundante no Norte e Nordeste do Brasil. O projeto foi realizado em colaboração entre a Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Além dela, participaram os pesquisadores: Carlos Victor lamarão Pereira, Albejamere Pereira de Castro e Francisca das Chagas do Amaral Souza.
O uso do cará tem diversos benefícios, entre eles, seu plantio é resistente à seca, exige pouca adubação e dispensa o uso de agrotóxicos em cultivos menores.
Processo
Para a extração da fécula, explica a pesquisadora, os carás foram lavados, descascados, cortados, triturados, filtrados e submetidos a fermentação por um período de 14 e 21 dias. Posteriormente, o material foi filtrado e decantado por 48 horas. Para a elaboração dos filmes, foram misturados água, amido e glicerol -, variando a concentração de glicerol que funciona como um agente plastificante. O estudo desenvolveu dois tipos de materiais: no formato mais espesso e outro em gel. Resistentes à umidade e comestíveis, os produtos resultantes têm potencial para chegar ao mercado.
Em condições favoráveis, o biofilme leva cerca de dois meses para se degradar na natureza ou pode ser consumido junto ao alimento embalado. De todo modo, se for irregularmente descartado não causará danos aos animais, por exemplo.
Segundo o estudo da pesquisadora, o “uso de revestimentos comestíveis representa grande vantagem econômica evitando a necessidade de armazenamento dos produtos em atmosfera controlada, diminuindo custos operacionais e de equipamentos”. De forma que, além de reduzir o uso do plástico comum, a ideia é que o material como embalagem de alimentos in natura aumentem a durabilidade dos mesmos, especialmente, em áreas onde frutas e legumes se perdem facilmente devido às altas temperaturas.
O projeto segue em desenvolvimento por Ana Cecília, que agora cursa o doutorado, e demais pesquisadores. O foco é deixar o filme mais fino.