As campanhas eleitorais feitas para disputar poder sempre trazem práticas que revelam as feridas da alma humana, que, mesmo quando curadas, deixam cicatrizes.
Mentir sobre o adversário, prometer o que sabe ser impossível cumprir, esconder seus reais objetivos impopulares são algumas dessas feridas da alma de alguns dos políticos brasileiros (Nem todo político é igual, ressalte-se). Fiquemos por aqui. Bastam esses três defeitos da aparência, e não da essência, para conversamos neste artigo. Não vou enchê-los com outras doenças dos nossos políticos.
Mentir sobre o adversário é mais comum do que se possa imaginar. Tem até uma frase do folclore político que diz: “meu adversário não tem virtudes e meu aliado não tem defeitos”. O adversário é um monstro insensível aos problemas do povo. Dizem: “o adversário, quando no poder, não fez o que deveria fazer; abandonou a população à própria sorte; roubou; enriqueceu; protegeu os seus; superfaturou obras; e desviou recursos públicos”.
As acusações feitas em campanha eleitoral, sem provas, merecem ser checadas, e sobre as dúvidas, acender o farol, jogar luz, penetrar na entranha olhando os reais objetivos por trás da mentira usada politicamente.
Hoje, a mentira política se sofisticou, alguns até a chamam de pós-verdade. A mentira até ganhou um apelido americano: fake news. O mais difícil de lidar nem é com a mentira clara e de fácil comprovação, mas com a desinformação criminosa. Aquela que usa um tijolo de verdade para construir um castelo falso.
Prometer o que sabe ser impossível cumprir
Já vimos de tudo nesse item. Se for eleito, vou acabar com a pobreza, dizem alguns, ignorando que Jesus Cristo, quando confrontado por Judas, na casa de Simão, o leproso, disse: “Porquanto, sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre”.
Os candidatos ao cargo de prefeito, antes de se lançarem na busca pelo voto, deveriam olhar o orçamento do município. As cidade têm um orçamento com receitas e despesas.
As receitas são provenientes dos tributos pagos pela população e de empréstimos. Para aumentar a receita e obter mais recursos para investir, tem dois caminhos: criar novos tributos ou endividar o município. Não tem milagre.
No caso das despesas, o prefeito eleito, ao assumir, receberá o município com despesas que já existem, são obrigatórias e devem ser pagas todos os meses. Nelas, estão as chamadas despesas correntes e as de capital. As despesas correntes só diminuem se forem cortados gastos. Isso é muito difícil de operar, pois se trata de pagamento de salários, manutenção dos órgãos públicos e pagamento de contratos do cotidiano da máquina pública. Sempre sobra muito pouco para as despesas de capital, de onde pode vir o dinheiro que pagará as promessas de campanha.
Então, não tem jantar grátis e nem dinheiro caindo do céu. As promessas precisam caber no orçamento ou não serão executadas.
Esconder objetivos impopulares
Muitos candidatos, para financiar a campanha, fazem acordos com políticos e com setores econômicos da cidade. Esses acordos, muitas vezes, incluem contratos, obras, cortes, serviços que vão na contramão do que deseja a maioria dos cidadãos. Geralmente, quando isso acontece, os efeitos só aparecem durante o mandato.
Os acordos políticos, por exemplo, são feitos também com adversários, aqueles que integravam as chapas contrárias, mas que não se elegeram e que defenderam propostas contrárias às do candidato eleito. Também há aqueles acordos para receber apoio de políticos que pedem fatias da máquina pública indicando secretários incompetentes e até corruptos. Esses acordos secretos surgem no decorrer do mandato, decepcionando os eleitores, que veem chegando ao poder aqueles que desejou derrotar.
No caso dos acordos econômicos, vamos a um exemplo concreto. O transporte público da cidade tem, de um lado, os empresários e, do outro, os usuários. Os donos das empresas de ônibus são interessados em que seus custos sejam baixos e a passagem suba de preço, gerando mais lucro para o seu negócio. O usuário quer e merece o transporte público eficiente e de baixo custo prometido durante a campanha.
O candidato pode ter recebido apoio financeiro dos empresários desse setor e estará preso a compromissos que não puderam ser revelados durante a campanha e apenas no mandato, quando a passagem ficar mais cara, é que o eleitor perceberá que foi enganado mais uma vez.
O eleitor é o julgador, eu sei, assim como sei que, para as pessoas comuns do povo, exigir um julgamento preciso e uma escolha certa, diferenciando o bom do mau, o joio do trigo, não é uma tarefa fácil.
O Profeta Samuel quando foi enviado por Deus para escolher um substituto para o Trono de Israel quase cometeu enganos e Deus refreou seu ímpeto e nos deu uma lição que podemos aplicar aos dias atuais.
E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse: Certamente, está perante o Senhor o seu ungido. 7 Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.
Samuel 1:6
Por José Carlos do PV
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