Na Semana da Consciência Negra, a qual coincide com um pós-eleições, mesmo que ainda em primeiro turno, como avaliar a participação dos negros quando o assunto é política no Brasil?
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cada dez prefeitos eleitos no primeiro turno, somente três são negros. Houve um leve aumento em relação ao último pleito, em 2016. Naquela ocasião, 29,2% dos prefeitos eleitos no primeiro turno eram negros.
Porém a diferença é muito pequena. Nem mesmo a determinação do TSE, com regras para a distribuição proporcional de recursos e de tempo de propaganda eleitoral aos candidatos negros, trouxe muitos resultados – apesar de ser um avanço. Desde que o Tribunal passou a coletar informações de raça, em 2014, pela primeira vez os candidatos negros representaram maioria, com 49,95% do total de candidatos.
No entanto, quando analisados os dados sobre lideranças do Executivo, 63% dos candidatos a prefeito e 59% dos candidatos a vice-prefeito neste ano eram brancos.
Se considerarmos os dados do IBGE, segundo os quais 56,2% dos brasileiros são negros, há um vácuo, uma significativa sub-representação. Ao todo, 67% dos prefeitos eleitos são brancos e 32,1% são negros. Ou seja, o meio político repete a desigualdade existente em áreas como as profissional e educacional.
Em um país majoritariamente negro, de causas negras prioritárias e relegadas, sob intensa desigualdade social entre brancos e negros, é inconcebível que a maioria esmagadora das lideranças políticas seja branca. E o pior: dessa maioria branca, poucos atuam em favor das causas negras ou mesmo da população como um todo, em busca de nossa tão sonhada igualdade (econômica, de direitos, social, educacional, profissional etc.).
Ainda estamos muito distantes de um Brasil que olha por todos os filhos, sem distinção, sem preconceito, sem segregação. Que nas próximas eleições o cenário mude mais, e assim por diante, até alcançarmos o que ainda é um sonho – e que jamais seja utopia.