As ações de reintrodução de onças na natureza iniciadas pelo Onçafari, projeto para o estudo e conservação de onças-pintadas, tiveram seu sucesso confirmado e podem ser consideradas o primeiro caso bem-sucedido do mundo. O trabalho de reintrodução começou em 2014, com dois recintos destinados à reabilitação e soltura, localizados no Refúgio Ecológico Caiman, no Pantanal; e na Pousada Thaimaçu, na Amazônia.
Seis anos depois, a reintrodução já demonstra resultados. Duas onças-pintadas, as irmãs Isa e Fera, que passaram pelo processo já geraram descendentes, totalizando oito animais a mais na natureza até dezembro de 2020.
“O sucesso acontece quando os animais soltos geram descendentes, que, por sua vez, devem ser férteis. O processo começou a gerar resultados em 2018, com o nascimento dos primeiros filhotes em vida livre. Em 2020, nasceram as segundas crias e a Isa ainda se tornou avó, confirmando o êxito da reintrodução. No total, são três filhotes da Fera e dois da Isa, que também ganhou um neto. Sendo assim, são oito onças a mais no Pantanal. É a primeira vez no mundo que este tipo de iniciativa deu certo”, destaca Lilian Rampim, bióloga do Onçafari.
As irmãs Isa e Fera perderam a mãe ainda filhotes e foram recebidas pelo Onçafari, para iniciar o processo de reintrodução no Pantanal, em 2014. O processo durou exatamente um ano e, durante esse tempo, Isa e Fera foram observadas, estimuladas para aprenderem a caçar e, pouco a pouco, foram se tornando cada vez mais aptas à vida na natureza. Quando chegou o momento de soltura, ambas receberam um rádio-colar individual para monitoramento.
Como funciona?
Maior felino das Américas e terceiro maior felino do mundo, atrás apenas do tigre (Panthera tigris) e do leão (Panthera leo), a onça-pintada (Panthera onca), por exemplo, é considerada “quase ameaçada” pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).
O processo de reintrodução dos animais pode durar cerca de um ano ou até mais, dependendo das especificidades de cada caso, sendo uma importante ferramenta para a recuperação de populações em risco de extinção.
Assim que acontece o resgate, são avaliados a saúde e o comportamento dos animais e verificado se há condição de reintroduzi-los com sucesso à vida selvagem. “Em seguida, os felinos são inseridos em uma área de semi-cativeiro, com as mesmas características do habitat natural, para que possam aprender a caçar e interagir com o ambiente como qualquer animal selvagem. Trata-se de um espaço onde podem ser observados, compreendidos e avaliados constantemente pelos coordenadores do projeto”, explica Mario Haberfeld, fundador do Onçafari.
Se considerados aptos para serem reintroduzidos na natureza, os animais são equipados com rádio-colares dotados de GPS para o monitoramento após a soltura, e reintroduzidos no habitat natural.
“O ONÇAFARI MONITORA AS ONÇAS PARA AVALIAR SE ESTÃO CONSEGUINDO LIDAR COM OS DESAFIOS NA NATUREZA. NO CASO DE NÃO SE ADAPTAREM, HÁ UM NOVO RESGATE. ENTRETANTO, ESSA AÇÃO NÃO FOI NECESSÁRIA ATÉ O MOMENTO.”
Pandora e Vivara – as irmãs amazônicas
Mais uma ação com resultados positivos teve início em 2016. Resgatadas com poucos dias de vida e ficando sob cuidados de profissionais do NEX, em Brasília (DF), as onças-pintadas Pandora e Vivara estrearam o recinto de reintrodução de aproximadamente 15 mil metros quadrados na base do Onçafari, na Amazônia, construído a tempo para recebê-las, quando tinham um ano.
No local, viveram por 12 meses, sendo observadas e tendo seus instintos de caça desenvolvidos, para depois serem soltas na Reserva do Cachimbo, área de preservação da Força Aérea Brasileira (FAB), e poderem viver livremente.
Depois que as irmãs amazônicas foram soltas, continuaram sendo monitoradas por meio de rádio-colares e armadilhas fotográficas. “Hoje, elas vivem totalmente adaptadas ao habitat e integradas ao ecossistema exatamente como a natureza pede”, comenta Haberfeld.
Onça-parda passa pela reintrodução no Pantanal
Cacau é a primeira onça-parda sob os cuidados do Onçafari. Ela foi acolhida pelo projeto no segundo semestre de 2020, no Pantanal, depois de viver toda a vida em um espaço de poucos metros quadrados. Arisca e independente, o que contribui para o processo, a onça está passando por um trabalho intenso de observação comportamental somado ao treinamento para a caça, com a expectativa de que em breve se integrará novamente ao seu habitat.
“A fragmentação de habitats, a caça em retaliação à predação de animais domésticos e de corte, e a perda de áreas de floresta em razão da ação humana são as principais ameaças às onças. Áreas desmatadas para a produção agropecuária e a expansão de cidades diminuem as áreas de vida desses predadores, diminuindo também a disponibilidade de presas naturais. Por isso, acreditamos ser fundamental esse trabalho de resgate e reabilitação dos animais, associado com ações educativas para que a população entenda a importância de cada indivíduo no ecossistema”, finaliza Haberfeld.