No dia 8 de dezembro de 2021, Alfredo Sirkis completaria 71 anos, mas um acidente trágico em 10 de julho de 2020, no Arco Metropolitano, em Nova Iguaçu, interrompeu a sua história de engajamento e luta pela democracia, pelo meio ambiente, pela sociedade brasileira. Porém, sua vasta contribuição para o Brasil não será esquecida. Está chegando a sua biografia, organizada pela editora Ana Borelli, esposa que o acompanhou durante 26 anos – ou melhor, a sua fotobiografia. “O livro tem muitas imagens, tem um texto muito bonito.”
A obra – que tem o patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, do Instituto Clima e Sociedade, da Fundação Verde Herbert Daniel e do WWF – terá quase 500 páginas, com versão em português e em inglês. A meta era lançar a biografia, que fica pronta agora em dezembro, no dia do aniversário de Sirkis, mas não foi possível. Agora a ideia é lançar ao longo de 2022 em cidades como São Paulo e Brasília. “É muito importante levar pessoas que escreveram o livro para falar um pouco da história do Alfredo”, ressalta Ana.
Para escrever, Ana convidou o jornalista Pedro Nogh, que trabalhou com Sirkis no livro Mangue Vivo, um projeto do Instituto Onda Azul. Outro convidado foi o arquiteto Roberto Ainbinder. “Era amigo pessoal do Alfredo. Então, convidei o Roberto para escrever sobre o período dele na prefeitura, na Secretaria de Meio Ambiente e na Secretaria de Urbanismo.”
De acordo com Ana, Pedro Nogh entrevistou todos os amigos, todas as pessoas que trabalharam com Sirkis, que tiveram importância real na vida dele, a exemplo de Gilberto Gil, Carlos Minc, Fernando Gabeira, Guido Gelli e Lucélia Santos, além de pessoas que trabalharam com ele mais recentemente e de Roberto Rocco (PV-RJ), que falou sobre o Partido Verde. “Também temos algumas apresentações, pessoas que escreveram textos pequenos, que são introdutórios.”
Um livro obrigatório
Ana Borelli era sócia de Alfredo Sirkis na editora. “A gente tinha uma parceria. Eu fazia todas as capas dos livros dele e, no final, nos últimos livros, eu já era editora.” Viajavam sempre juntos e estaria ao seu lado no dia do acidente. “Quando o Alfredo foi viajar para o sítio, eu ia na viagem e desisti dois dias antes. E fiquei me perguntando, logo depois do acidente, o porquê de eu ter ficado. Acho que a gente sempre tem muitos porquês quando vivencia um luto, ainda mais da maneira como foi.”
Depois, Ana se deparou com os arquivos dele, tudo muito organizado e de uma imensa riqueza. “Tinha tudo, desde a década de 1970, desde a infância dele, organizado por ano. Acho que, inclusive, ele tomou essa iniciativa de deixar tudo muito organizadinho logo quando infartou, há 10 anos.”
Ao mexer nos arquivos, segundo ela, começou a entender por que não fora na viagem. “Eu tinha de registrar a história dele, todos os feitos dele, todas as lutas. O Alfredo sempre foi uma pessoa muito generosa e abraçava as causas com o coração. Acho que era muito parecido com o Herbert Daniel e com o Chico Mendes, por isso, eles foram amigos.”
Compreendeu, assim, a necessidade de deixar registrado tudo o que ele realizou. “É um legado. Eu preciso fazer isso em português e em inglês para que as pessoas tenham conhecimento da história dele, do papel dele, da importância dele dentro do movimento ambiental, da sociedade brasileira, da cidade do Rio de Janeiro, que ele tanto amava.”
Ana considera o livro obrigatório não apenas para quem quer conhecer a história de Sirkis, mas também o movimento ambiental brasileiro. Para ela, no entanto, tem sido bem mais que isso: “É um livro obrigatório, mas, ao mesmo tempo, foi, para mim, um livro que me fez superar um pouco a ausência dele. Eu acho que mexer com essas memórias é como se eu tivesse feito uma terapia; tivesse servido como terapia. E, para mim, é um dos livros mais bonitos que eu fiz até hoje”.
Alfredo Sirkis no Museu do Amanhã – Acervo Alfredo Sirkis
Chegada ao Brasil pós-exílio – Acervo Alfredo Sirkis