Pesticidas. Mais uma vez o uso abusivo dessas substâncias nas plantações do mundo e, especialmente no Brasil, vem matando milhões de abelhas por ano. De acordo com registro feito pela Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), em pouco mais de um ano 900 milhões de abelhas foram mortas principalmente por causa do uso de pesticidas.
Em entrevista concedida a equipe de reportagem da Fundação Verde, o professor Lionel Segui Gonçalves, coordenador da campanha Sem abelha, sem alimento e professor da UFERSA, (veja artigo sobre o assunto na Pensar Verde #14) alertou que o perigo de extinção de polinizadores no mundo afeta não só a oferta de alimentos para a população, mas também a biodiversidade do planeta. “As abelhas são responsáveis pela polinização de 90% das plantas em geral e 70% dessas são utilizadas pelo homem para sua alimentação e dos animais”, afirmou Lionel. Apesar das abelhas serem os polinizadores mais conhecidos, há também moscas, borboletas, besouros, pássaros, morcegos e alguns vertebrados, como lagartos e pequenos mamíferos que executam esse papel.
Contrapondo a teoria de Lionel, o relatório divulgado pelo Intergovernamental Platform on Biodisersity and Ecosystem Services (IPBES) “Polinização, polinizadores e produção de alimentos”, aponta que a mudança no uso da terra, os fatores climáticos e a agricultura intensiva são também causadores da extinção desses animais. No entanto, Lionel afirma que no Brasil essas não são as principais causas da morte de abelhas usadas na apicultura. “Temos seríssimos casos de apicultores brasileiros que estão desistindo de explorar a apicultura devido ao uso indiscriminado de pesticidas”.
Como prova do uso abusivo de pesticidas, foi defendida recentemente na UFERSA uma tese de doutorado publicada em março de 2015 na revista Apidologie (Pesticide exposure of honeybees Apis melífera pollinating melon crops) realizada em uma das empresas meloneiras, tendo sido encontrados nas análises químicas de amostras de mel das colmeias utilizadas, 19 tipos de pesticidas, entre eles os acetamid, imidacloprid, parathion ethyl, paraxon e thiamethoxan considerados os pesticidas mais tóxicos aplicados, o que comprova o uso indiscriminado desses pesticidas nessa cultura.
Segundo o professor, o problema do desmatamento no Brasil atinge sim as abelhas, porém em sua grande maioria apenas as nativas sem ferrão (meliponineos) e em casos raros as abelhas utilizadas na apicultura (Apis melífera) também são atingidas. Mais de três quartos das principais lavouras de alimentos no mundo dependem, em algum grau, dos serviços de polinização animal, seja para garantir o volume ou a qualidade da produção e cerca de 90% das plantas também dependem dessas espécies. De acordo com Lionel, somente em um lugar próximo a Foz do Iguaçu-PR foi registrada recentemente, a partir do aplicativo Bee Alert, a morte de mais de 1.500 colônias de abelhas sem ferrão.
No caminho oposto de muitos países, o Brasil segue permitindo o uso de pesticidas como o neonicotinoides, um dos mais utilizados no país e que está com a venda proibida na Alemanha há dois anos. Além disso, em março deste ano a União Nacional dos Apicultores da França aprovou em assembleia a interdição dos pesticidas neonicotinoides para ser aplicada a partir de 1o. de setembro de 2016.
Ainda de acordo com o professor Lionel, a orientação dada aos agricultores franceses e divulgado pela agência de notícias France Press, os cinco passos para salvar as abelhas da morte ou do desaparecimento são: plantar mais arbustos e árvores ricas em flores, néctar e pólen; deixar trechos de terra livre de culturas para o crescimento de plantas silvestres ou nativas; aparar a grama com menos frequência; evitar a perturbação ou destruição de insetos aninhados ou em hibernação e pensar cuidadosamente antes de usar os pesticidas, apesar de que quando se trata dessas substâncias Lionel seja veementemente contra o uso, mesmo que minimizado e a favor do controle biológico no lugar.
Larissa Itaboraí
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Carlos
Deveriam divulgar mais
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