No mês de conscientização para a redução de acidentes de trânsito, que deve ser seguro para todos em qualquer situação, a Fundação Verde Herbert Daniel vai de bike com a ONG Transporte Ativo, com a União de Ciclistas do Brasil (UCB) e com a World Cycling Alliance (WCA).
É necessário interiorizar que as bicicletas – que só viraram veículo no Brasil em 1998, com o novo Código de Trânsito, pois antes eram consideras apenas um brinquedo – são um meio de transporte. E mais que isso: um veículo que não polui, aumenta a saúde do ciclista, evita engarrafamentos, acalma o trânsito, é resiliente e se adapta a diversas situações.
“Tivemos o tsunami no Japão, em 2011, e a cidade continuou funcionando por causa das bicicletas. Tivemos, em 2018, o terremoto na Cidade do México e os primeiros socorros, medicamentos, alimentos chegaram de bicicleta, pois os carros não conseguiam ir, ou então de helicóptero”, comenta Zé Lobo, presidente e um dos fundadores da Transporte Ativo, um dos fundadores da UCB, que promove ações semelhantes às da Transporte Ativo, mas no nível federal, e um dos fundadores e diretores da WCA, com atuação mundial.
Lobo ainda enumera mais exemplos: “Quando tivemos a greve dos caminhoneiros, em 2018, em que algumas cidades praticamente pararam, se você fosse para qualquer uma das ciclovias da Avenida Paulista, parecia que você estava em Amsterdã, de tanta bicicleta. Ou seja, não tinha combustível, mas as pessoas não pararam porque as bicicletas estavam ali para suprir essa demanda”.
Para ele, a pandemia reforçou ainda mais o valor e a utilidade do transporte, pois o veículo funciona bem na manutenção do distanciamento. Não à toa, as vendas dispararam no mundo todo, e até já falta produto. “Em julho de 2020, o mercado de bicicletas do Brasil vendeu mais bicicletas do que no Natal de 2019, porque as pessoas começaram a ver nela uma solução.”
“Acalmador do trânsito”
Zé Lobo analisa que o problema hoje no Brasil está em quem lidera as secretarias de Transporte, pois eles têm uma formação do final do século passado, “que foca muito no transporte motorizado e nos de massa. Então, a bicicleta fica sempre um pouco esquecida”.
Também falta compreender a importância da bicicleta e do retorno que ela dá. “O problema é que aqui a gente ainda não tem muitos exemplos, mas quando se tem, como na Europa, um começa a seguir o outro, uma cidade segue a outra.” A grande questão é que “falta interiorizar a bicicleta como uma solução boa no planejamento urbano, e de qualquer empreendimento. Hoje, ela vai além da cidade. Você tem muitas empresas usando a bicicleta como ferramenta de trabalho”.
Os benefícios do uso mais amplo das bikes também são desconsiderados. “Planejando mais para o uso da bicicleta, a gente ganha segurança viária nas cidades, pois ela passa a ser um acalmador do trânsito. Se você tem muita bicicleta, o motorista já fica mais acostumado a encontrar uma a cada quarteirão, por exemplo. Se são muitos ciclistas, esse motorista pode ser um deles, ou sua esposa, a tia, os filhos… então, ele começa a lidar com aquilo de uma maneira diferente.”
O que ocorre no Brasil, entretanto, ainda é bem distinto, isso porque o motorista ainda vê muito a bicicleta como um invasor. “Às vezes, é uma pessoa dócil, gentil, mas ali naquele momento, dirigindo, quando ela vê alguém no espaço dela, ela age de uma forma que, para o ciclista, é muito violenta, porque ele não tem a carcaça de aço em volta.”
Lobo analisa, ainda, a importância de as pessoas se lembrarem que elas podem ser passageiras, motoristas ou ciclistas em um momento, ou em outro. O problema é que, quando estamos em um modo específico, o de motorista, por exemplo, nos esquecemos de todos os outros.
A Transporte Ativo trabalha com levantamentos e pesquisas. Em uma das contagens feitas pela ONG na Avenida Figueiredo de Magalhães, em Copacabana (RJ), antes e dois anos depois da implementação de uma infraestrutura cicloviária, as mudanças foram consideráveis. “Na segunda contagem, não havia ciclista na contramão (30% na contagem anterior), não tinha mais ninguém na calçada (antes eram 10%), o número de mulheres aumentou mais de 100% e o de crianças na cadeirinha aumentou 120%.”
A conclusão é que, se pessoa se sente segura, ela vai de bike. Às vezes, por medo de pedalar três quarteirões, a opção é o carro. Zé Lobo alerta que também não adianta sair construindo quilômetros e quilômetros de ciclovias sem qualidade alguma. Além de não dar condições para o ciclista usar a via, essas estruturas têm pouca durabilidade.
Um pouco sobre a ONG
A Transporte Ativo existe desde 2003 e nasceu da necessidade de os ciclistas no Rio de Janeiro serem ouvidos pela prefeitura. “Sentimos a necessidade de montar uma organização para chegar lá de outra forma, não apenas como um cidadão, mas como uma organização que promove, que busca melhorar o uso da bicicleta na cidade”, explica Zé Lobo.
A ideia inicial foi preencher uma lacuna que a prefeitura do Rio deixava: “Naquela época, eles já construíam ciclovias na cidade, mas não diziam para ninguém como é que se usava aquilo. E cada um usava como achava melhor, entendia como queria, e até hoje a gente tem sequelas do mau uso por causa disso”. A ONG, então, passou a divulgar como as ciclovias deviam ser usadas.
Mas, depois, percebeu-se que quem mais precisava daquelas informações era a própria prefeitura, porque quem estava planejando para bicicleta não dominava o assunto. Também começaram a levantar dados, o que não existia à época no Rio, por isso, tempos depois, o foco da ONG mudou e passou a ser levantamento de dados, para que a prefeitura pudesse planejar com conhecimento.
As metodologias desenvolvidas e o conhecimento foram repassados “para todas as organizações que a gente conhece”. A Transporte Ativo também faz a pesquisa Perfil do Ciclista, com sua terceira edição agendada para o segundo semestre deste ano, com 35 cidades confirmadas até agora. Na primeira pesquisa, foram dez.
Sobre o Maio Amarelo
O movimento internacional nasceu com a proposta de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. O mês de maio foi o escolhido em razão da Década de Ação para Segurança no Trânsito, decretada em 11 de maio de 2011 pela ONU. Assim, maio se tornou referência mundial para balanço das ações que o mundo inteiro realiza. Já o amarelo simboliza a atenção e, também, a sinalização e a advertência no trânsito.
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